Título: Aposta certa na energia nuclear
Autor: Franco, Albano
Fonte: O Globo, 28/07/2007, Opinião, p. 7

As fortes evidências da rápida evolução do aquecimento global, associadas às graves conseqüências advindas desse fenômeno planetário, entre as quais as mudanças climáticas, parecem sinalizar, de fato, para uma nova era de convivência humana, pautada na responsabilidade para com a preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável.

Dentro dessa nova visão preservacionista, emerge como postulado básico a mudança de paradigma quanto ao uso da energia, priorizando-se as fontes não-poluentes e renováveis, isto porque os combustíveis fósseis estão na linha de frente dos principais agentes causadores do aquecimento do planeta, em virtude da liberação de imensas quantidades de dióxido de carbono. Nesse sentido, convém mencionar que o carvão é, disparado, a maior fonte de energia da atualidade, participando com o elevado percentual de 39% na matriz energética mundial, seguido pelo gás e óleo, com 17,5 e 8%, respectivamente. Estes dados publicados pela Agência Internacional de Energia Atômica sugerem uma idéia bastante precisa do ingente esforço a ser realizado nos próximos anos visando reduzir a utilização dessas fontes fósseis.

Diante disso, a energia nuclear avulta como opção factível visando à reorientação da matriz energética mundial para a utilização de fontes consideradas limpas. A propósito, uma recomendação para o uso dessa fonte alternativa à queima dos fósseis foi aprovada na terceira edição do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, realizado em maio passado, em Bancoc, com a participação de representantes de mais de 120 países. Certamente, esta será a estratégia que os países da União Européia irão adotar com o objetivo de substituir o carbono nas suas matrizes energéticas. A França, por exemplo, já supre quase 80% de suas necessidades de energia em usinas termonucleares. A China deverá construir cerca de 30 usinas até o ano de 2020. E o Brasil?

Na matriz energética brasileira, a energia termonuclear representou meros 3,3% de toda energia gerada em 2006 pelas usinas de Angra I e Angra II, ficando na segunda posição no cômputo geral. De fato, o grosso da produção de eletricidade do país, cerca de 92% do total dos 82,5 mil megawatts ora gerados, provêm das usinas hidrelétricas, como conseqüência da grande disponibilidade hídrica. Entretanto, com a redução da eficácia econômica e ambiental que vem se verificando por uma série de fatores adversos, tais como a distância dos centros consumidores e as enormes perdas na transmissão, a alternativa hidráulica deverá ceder espaço à geração termonuclear na matriz energética brasileira que, segundo especialistas, deverá passar dos atuais 3,3% para pouco mais de 5%, com a construção de novas usinas.

Além das questões ambientais, o Brasil precisa urgentemente ampliar a sua capacidade instalada. Urge a realização de investimentos em geração e transmissão de energia visando ampliar a oferta de eletricidade, que está praticamente no limite, para suprir uma demanda que necessita de 4 a 5 mil megawatts adicionais por ano. De acordo com especialistas em planejamento energético, já se prevê que, a partir de 2010, o país irá sofrer racionamento de energia elétrica.

Alertado para a gravidade do problema, o atual governo, que até o momento não conseguiu elevar a capacidade instalada, seja estimulando a iniciativa privada a investir no setor ou investindo diretamente, parece que decidiu ressuscitar o programa nuclear brasileiro autorizando a conclusão de Angra III, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética no final de junho. Há, ainda, planos de construção de duas usinas no Nordeste. Esta região, como se sabe, está com seu potencial hidráulico praticamente esgotado e, por isto, deverá ser beneficiada com a primeira usina de mil megawatts a ser construída e prevista para entrar em operação em 2017.

O planejamento do governo prevê ainda a construção de oito usinas até 2030, o que provavelmente não será suficiente para atender à demanda, caso o crescimento econômico do país se sustente a uma taxa anual em torno de 5% nos anos vindouros.

Embora tardiamente, não resta dúvida de que a recente decisão governamental de tocar o programa nuclear objetivando a geração de energia é um passo importante para a expansão da oferta desse insumo indispensável ao crescimento do país. E, para isto, temos urânio em abundância, já que somos o sexto produtor mundial desse minério estratégico e, mais do que isto, dominamos a tecnologia de enriquecimento.

É isso aí, antes tarde do que nunca!

ALBANO FRANCO é deputado federal (PSDB-SE).