Título: Superávit pode ser reduzido
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2009, Economia, p. 12

O governo federal já cogita a possibilidade de reduzir a meta de superávit primário (economia para pagamento de juros) de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,8% por causa dos impactos da crise mundial na economia brasileira. Mas a diminuição, se ocorrer, não deve gerar dúvidas sobre a capacidade de o governo federal honrar seus compromissos como acontecia no passado. Para o especialista em contas públicas Amyr Kahir, o mais relevante no momento é que a relação dívida/PIB, mesmo com um corte no superávit primário, deve seguir trajetória de queda. Isso porque, segundo ele, a inflação em queda possibilita cortes na taxa de juros pelo Banco Central (BC), o que diminui o custo da dívida pública.

Nas projeções do economista, se a economia crescer pelo menos 1% neste ano e se o superávit primário cair para 2,5% do PIB, a relação dívida/PIB será de 35,4% ¿ percentual um pouco menor que os 35,8% de 2008. ¿Mesmo assim, teríamos uma ligeira queda na comparação com o ano passado¿, contou. O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel Pessoa, frisou que a economia mundial passa por um período excepcional e que diante do cenário de queda da arrecadação ocasionada pela desaceleração da economia será praticamente impossível o cumprimento da meta de superávit primário de 3,8%.

Para ele, essa economia deverá ficar entre 2,5% e 3,5% neste ano. Isso porque, o governo federal precisa manter os investimentos, como os previstos no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), para evitar que o tombo da economia neste ano seja ainda maior. Muitos economistas projetam expansão do PIB entre 1% e 2% em 2009. ¿Se os juros baixarem rápido, o custo da dívida vai diminuir, o que pode compensar parte da redução do superávit primário. A questão da solvência não é colocada em xeque neste ano atípico¿, destacou Pessoa.