Título: Situação é mais grave
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2009, Economia, p. 12

Para a organização dos países desenvolvidos, primeiro trimestre de 2009 será o pior da crise e crescimento será abaixo do esperado A despeito das medidas emergenciais tomadas por quase todos os governos do mundo, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) previu ontem que o colapso global provocado pela crise econômica será mais severo do que se imagina. A entidade, que representa os 30 países responsáveis por mais da metade da riqueza global, alertou que as previsões feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em janeiro são tímidas perto da gravidade da Situação.

O economista-chefe da OCDE, Klaus Schmidt-Hebbel, disse não ter dúvidas de que a recessão se aprofundará. Segundo ele, este trimestre será o pior de todos. O especialista defendeu corte de juros adicionais por parte do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra como forma de destravar o sistema de crédito. A Situação de momento exige cautela e pulso firme das nações ricas, destacou Schmidt-Hebbel. ¿Os países da OCDE terão desempenho pior que o mundo porque economias emergentes de países como Índia, China e outros terão crescimento levemente positivo em 2009¿, completou.

Em janeiro, o FMI reduziu a expectativa de crescimento global em 2009 para 0,5% e projetou uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) dos países ricos da ordem de 2%. Há 15 dias, o diretor-geral do fundo, Dominique Strauss-Kahn, chegou a admitir que o organismo tende a revisar novamente a previsão de crescimento mundial, desta vez reduzindo a previsão a zero. Para Schmidt-Hebbel, no entanto, nem mesmo esse choque de realidade reflete a extensão da turbulência que sacode os países capitalistas. ¿Será uma recessão significativamente mais profunda que a prevista pelo FMI, em todos os níveis¿, disse o representante da OCDE alertando ainda para um prolongamento do estresse global.

Socorro A OCDE criticou ainda a ajuda a setores como o automotivo. Na avaliação de Schmidt-Hebbel, as seguidas injeções de recursos promovidas nos Estados Unidos e na Europa para salvar as montadoras se traduzem em medidas ¿ineficazes e injustas¿. Já os pacotes de ajuda ao sistema financeiro foram amplamente defendidos pelo executivo. De acordo com Schmidt-Hebbel, as intervenções oficiais nos bancos que estão em dificuldade são importantes porque ajudam a manter o sistema em equilíbrio. ¿é chave para oferecer créditos a outros setores¿, disse.

O secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, engrossou o coro dos pessimistas e afirmou ontem que a crise só terá algum desfecho ao longo de 2010. Ainda assim, a OCDE defendeu que os cenários sombrios não devem minar os esforços dos governos na busca pelo aperfeiçoamento do sistema financeiro nem servir de desculpa para o adiamento de outras reformas estruturais. Gurría atacou a falta de regulação dos mercados financeiros, o que, segundo ele, contribuiu para o agravamento da crise.

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