Título: A reabertura do balcão de negócios
Autor: Camorotti, Gerson
Fonte: O Globo, 29/07/2007, O País, p. 17

Ministro anuncia liberação de verbas a aliados para aprovar emendas.

BRASÍLIA. O desempenho da base aliada acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto, pois explicitou que o governo não tem uma base segura na Câmara, apesar de ter feito uma forte distribuição de ministérios para PMDB, PR, PP, PDT, PTB e PSB. Nos bastidores, ministros políticos já reconhecem que o governo será forçado a reabrir o balcão de negócios para aprovar, no segundo semestre, emendas constitucionais consideradas fundamentais para as contas do Executivo, como as que prorrogam a vigência da CPMF e da DRU - o instrumento que permite ao governo usar livremente parcela do Orçamento.

Uma medida já foi anunciada aos líderes aliados pelo ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia: o governo vai implementar um cronograma de liberação de emendas de parlamentares até o final do ano, totalizando R$3 bilhões. No próximo mês, deve ser liberada uma parcela de R$500 milhões. Também serão retomadas, com mais fôlego, as nomeações para cargos federais de segundo e terceiro escalões.

- Concordo que poderíamos estar um pouco mais acelerados com a liberação de verbas e nomeações. Isso cria uma ansiedade natural - justifica Walfrido.

Mesmo sem uma base sólida, e confiável, na Câmara, segundo o levantamento da Arko, o apoio foi suficiente para que o governo vencesse a grande maioria das votações de seu interesse: perdeu em apenas quatro das 27 situações analisadas.

PMDB é o segundo mais infiel, só perdendo para o PP

O que chama atenção nesta estatística é a evolução do comportamento mensal das bancadas. Em meses em que houve nomeações partidárias para cargos estratégicos, determinado partido votou mais unido com o governo. Já em momentos em que o Planalto interrompeu as nomeações, as bancadas foram mais rebeldes.

O PMDB, o segundo mais infiel - só perde para o PP - é um bom exemplo dessa barganha. Em fevereiro, quando negociava o Ministério da Integração Nacional para o baiano Geddel Vieira Lima, o partido votou fraco com o governo: 55,82% da bancada. O apoio peemedebista subiu em março e atingiu 79,85% em abril, depois da nomeação de Geddel. Esse apoio voltou a cair em maio (58,29%), com a interrupção de cargos para o segundo escalão, e subiu de novo em junho (70,16%) com nomeações do PMDB para cargos estratégicos no Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

- O PMDB perdeu a paciência com a demora do governo em indicar seus afilhados para cargos do segundo e terceiro escalões - registra o cientista político Cristiano Noronha.

O mesmo ocorre com outras legendas. O PTB deu maior apoio ao governo nos meses de março e abril (80%), quando o deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE) foi nomeado líder do governo e Mares Guia virou ministro das Relações Institucionais. Mas nos meses de maio e junho o apoio caiu para 68%.

O PP é o partido com maior percentual de infidelidade. Em março, conseguiu manter o ministro das Cidades, Márcio Fortes, e aí o índice de apoio em votações foi de 68,25%. Mas, sem obter novas nomeações, sofreu uma queda para 59,52%. O recado do partido ficou claro em maio, quando ajudou a derrotar o governo votando um destaque do PTB na MP 351, que estabeleceu redução da tributação sobre arrendamento rural.

- O mínimo que o Planalto deve fazer é nomear os cargos prometidos e pagar as emendas individuais - diz o deputado João Pizzolatti (PP-SC).

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