Título: Sistema digital deverá movimentar mais de R$100 bilhões em dez anos
Autor: Oliveira, Eliane e Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 30/07/2007, Economia, p. 22

SINTONIA COM O FUTURO: No início, aparelho receptor custará cerca de R$300.

Nova tecnologia deve estimular expansão da indústria e do mercado publicitário.

BRASÍLIA. O surgimento da rádio digital poderá trazer benefícios a uma indústria que deixou de existir após o avanço das importações de aparelhos chineses, japoneses e coreanos. Hoje não existem fábricas de rádio no país. A previsão do governo federal e do setor privado é que, em dez anos, o novo sistema movimente mais de R$100 bilhões, valor equivalente à metade esperada para a TV digital. A conta abrange tanto a transmissão em si quanto o comércio de aparelhos.

Num primeiro momento, os preços dos aparelhos receptores serão elevados em comparação aos analógicos - que podem ser comprados por até R$10 em feiras livres. A estimativa é que, no início, o valor fique em torno de R$300, mas a tendência é o preço cair ao longo dos anos.

- Se forem fabricados no país, os rádios digitais terão os mesmos preços dos aparelhos analógicos - disse Tamio Harada, diretor administrativo da Kenwood, uma das maiores fabricantes de rádio automotivo do mundo.

Kenwood poderá fabricar receptores no país

A Kenwood, aliás, já está fazendo testes de rádio digital em São Paulo. Harada afirmou que a empresa ainda está decidindo se fabricará ou não no Brasil os receptores digitais.

- Isso depende da velocidade da migração das emissoras para o novo sistema. A diferença de qualidade vai forçar essa mudança e pode valer os investimentos para uma fábrica - afirmou o diretor.

Para Benjamin Sicsú, diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), será necessária a implementação de uma política pública para impulsionar a indústria nacional:

- O crescimento de uma indústria ou a vinda de fabricantes para o Brasil não depende apenas de tecnologia, mas de incentivos.

Quanto a isso, não haverá problema, assegurou o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Assim como foi feito com a TV digital, o governo adotará medidas para estimular a instalação de indústrias no Brasil, com linhas de financiamento do BNDES e incentivos fiscais.

- O governo está pronto para ajudar empresas que queiram se estabelecer para produzir rádio digital em qualquer lugar - afirmou o ministro.

As emissoras estão ansiosas pelas mudanças. Elas acreditam que o padrão digital será o renascimento da AM (ou OM, Ondas Médias, em português). As empresas acreditam que o mercado publicitário poderá ser multiplicado por três em poucos anos. Hoje, cabe ao rádio uma fatia de apenas 4% do bolo publicitário, estimado em R$11 bilhões por ano.

O presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slavieiro, acredita que a migração para sistema digital se dará de forma bastante rápida:

- O setor defende a urgência na definição do padrão. Não por vaidade, mas por necessidade. Os nossos novos concorrentes, os MP3 e os Ipods, já são digitais.