Título: Vinte mil pessoas no caminho da ampliação
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 31/07/2007, O País, p. 3

Cidade também "engoliu" Cumbica, mas remoção custaria menos que construir outro aeroporto.

SÃO PAULO. Além de problemas na pista, como em Congonhas, o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, também foi "engolido" pela cidade. Tida como a primeira opção para tentar diminuir o intenso tráfego aéreo que provocou um colapso em Congonhas, na área central da capital, a construção da terceira pista de Cumbica somente será possível quando o governo resolver um problema que envolve a moradia de cinco mil famílias ou 20 mil pessoas que ocupam a área destinada pela Infraero para a ampliação do aeroporto.

No local previsto para a construção da terceira pista de Cumbica há dezenas de bairros, como Vila Malvina. Nesse bairro, ocupado clandestinamente por moradores que foram chegando aos poucos nos últimos 18 anos, invadindo um terreno que pertencia à Infraero, hoje vivem aproximadamente 20 mil pessoas. Além de barracos, há igrejas e pequenos mercados.

A comerciante Luzinete Maria Batista Souza mora na Vila Malvina, ao lado da entrada do Aeroporto de Cumbica, há 18 anos. Seu pequeno estabelecimento comercial está localizado a menos de 50 metros da portaria do aeroporto. - Quando cheguei aqui, o aeroporto já existia, mas era tudo rodeado de mato. Montamos o bar aqui e decidimos morar por aqui também, ampliando o comércio para a construção da nossa casa. Depois vieram meus irmãos e muita gente mais. Hoje isto aqui virou uma cidade - disse Luzinete ao site G1, lembrando que, além da Vila Malvina, as famílias instalaram seus barracos e casebres nas Vilas Santa Edwiges, Santa Lídia, Sem Terra e Portugal, que compõem a área do governo e Infraero.

A construção da terceira pista nesse local foi discutida na última sexta-feira em encontro do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Além da construção da nova pista, Serra propôs a Jobim a instalação de trem expresso da capital paulistana até o aeroporto de Guarulhos, nos moldes dos principais terminais aéreos do mundo. O governo de São Paulo está convencido de que o custo da remoção das cinco mil famílias é infinitamente menor do que a construção de um novo aeroporto no estado.

Mas, além da ocupação na região do aeroporto em Guarulhos, a Infraero e o governo estadual enfrentam um outro problema para pôr em prática o projeto de ampliação da terceira pista. O governo estadual, em 2002, decretou a desapropriação da área. Mas os moradores, depois de uma passeata até a Câmara dos Vereadores de Guarulhos, conseguiram que fosse aprovada uma lei de zoneamento que dá o direito de continuarem morando na região. A Prefeitura de Guarulhos (PT), que apóia a construção da nova pista, faz uma ressalva:

- Antes de pensar na construção de uma nova pista, precisamos preservar o direito das famílias que vivem naquela área de receber recursos que permitam a compra de novos imóveis - diz o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Moacir de Souza.

Os bairros que circundam o aeroporto em Guarulhos mudaram de perfil ao longo dos últimos anos. Segundo a gerência de meio ambiente da Infraero, os 17 bairros vizinhos do terminal passaram da condição de "ocupação inexistente" ou "parcial", na década de 70, para "ocupação total" em 2002.

Além dos moradores no local da terceira pista, a cabeceira do aeroporto de Guarulhos também já está densamente ocupada, com pelo menos outras três mil famílias que vivem sob o vaivém das aeronaves. Embora o volume de pessoas que residem próximo ao aeroporto de Guarulhos seja infinitamente menor que em Congonhas (três milhões de pessoas moram ao redor do terminal que serviu de palco para a maior tragédia aérea do país, há duas semanas), o terminal internacional em Guarulhos também sofre com o crescimento habitacional desordenado.