Título: Rossano Maranhão se recusa a assumir a Infraero
Autor: Gois, Chico de e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 31/07/2007, O País, p. 5

Jobim avisa que vai demitir José Carlos Pereira, mas ainda procura substituto; brigadeiro diz que "tudo o que entra, sai".

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, adiantou ontem, durante reunião da coordenação de governo, no Palácio do Planalto, que vai demitir o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Ainda não há nome nem prazo para a troca de comando na empresa.

Na reunião, Jobim informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que já havia, inclusive, convidado o ex-presidente do Banco do Brasil Rossano Maranhão para assumir a presidência da Infraero. No entanto, Maranhão respondeu ao ministro que não poderia aceitar o cargo e sugeriu que poderia colaborar em momentos de crise de outra forma, talvez atuando no conselho administrativo da empresa.

Em entrevista, Jobim desconversou sobre a demissão de Pereira e chegou a negar o convite a Maranhão:

- Quem dá informações sobre Infraero e Anac não é o Planalto, sou eu.

Brigadeiro diz que não vai pedir demissão

No momento em que Jobim estava reunido no Planalto, o brigadeiro José Carlos Pereira, aparentemente sem saber ainda que seu destino já estava selado, dava entrevistas dizendo que desconhecia se iria permanecer ou não no cargo.

Mais tarde, ao chegar para a reunião do Conselho Nacional de Aviação Civil (Conac), informado pelos repórteres que o Planalto confirmava sua saída, o brigadeiro resignou-se mais uma vez. Sua passagem pela função foi marcada por frases de efeito. É dele a declaração de que a malha aérea do país havia ido para o espaço. Na semana passada, por exemplo, ele assumiu ares de especialista em "pepinos". E, ontem, adicionou novas pérolas ao seu discurso:

- O que eu posso fazer, meu filho? Tudo o que entra, sai. Tudo o que sobe, desce. É a lei da física.

O sempre solícito presidente da Infraero avisou, no entanto, que não vai tomar a iniciativa de pedir demissão. Afirmou ainda que até o momento da entrevista, às 18h, ainda não havia sido comunicado da decisão pelo ministro da Defesa. O brigadeiro disse que não há constrangimento em deixar a função e que não se sente traído:

- Temos que ter consciência do que é o serviço público. Não se deve sair chutando a mesa. O povo brasileiro não paga para fazermos isso. Se sairmos, sairemos tranqüilos.

Perguntado se não seria incoerente o governo mudar a direção da Infraero e manter o comando da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Pereira se limitou a dizer que a pergunta deveria ser feita ao ministro da Defesa.

"Mais 500 metros de pista não iriam resolver"

Ontem, Pereira disse ainda que, se a pista do Aeroporto de Congonhas fosse bem maior, o acidente com o avião da TAM poderia ter sido evitado. O brigadeiro deu a declaração ao comentar reportagem da revista "Veja" que apontou uma falha humana na operação das manetes (alavancas que controla a aceleração das turbinas) da aeronave. O brigadeiro disse que a hipótese é viável, mas que é preciso aguardar o fim das investigações.

- Uma coisa é certa: na velocidade em que aquele avião estava, mais 500 metros de pista não iriam resolver o problema dele. Mas é claro que todo piloto gosta de duas coisas: pista e combustível - disse.

Para o brigadeiro, 800 ou 900 metros a mais de pista poderiam ter evitado a tragédia em Congonhas, isso se os pilotos tivessem detectado uma eventual falha humana a tempo.

COLABOROU Ailton de Freitas)