Título: PT também acusa oposição e imprensa
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 01/08/2007, O País, p. 8

Partido diz que vaias a Lula e cobertura da tragédia já visam às eleições.

SÃO PAULO. Resolução aprovada ontem pela comissão executiva do PT acusa a oposição de recorrer "à manipulação e à mentira" para desgastar o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o partido.

"A derrota da reforma política, as vaias contra o presidente na abertura do Pan e o tratamento dado por setores da mídia e da oposição ao acidente com o avião da TAM revelam que a oposição, articulada com setores da mídia, está "subindo o tom" nos ataques ao governo e ao PT, tendo em vista tanto as eleições de 2008 quanto as eleições de 2010", afirma a resolução da direção petista, discutida e aprovada ontem por 16 dos 21 integrantes da executiva.

Da discussão participaram o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), o vice-presidente do partido, Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula e flagrado em gestos obscenos comemorando uma notícia sobre o defeito no avião da TAM, e o ministro da Saúde no primeiro mandato Humberto Costa, entre outros.

- Há um vínculo de conexão entre a atitude da oposição, principalmente do PSDB na reforma política, as vaias ao presidente da República no Pan, o tratamento que um setor da mídia e da oposição deram ao acidente (com o avião da TAM), que foi de culpar o governo. E os fatos estão demonstrando que o acidente tem outras causas. Houve um prejulgamento de uma parcela importante dos meios de comunicação. Havendo ou não intencionalidade, há uma conexão, que manifesta na mudança do tom da oposição em relação ao governo, motivada pela proximidade das eleições do ano que vem - disse o secretário nacional de Relações Internacionais, Valter Pomar.

Humberto Costa defendeu Marco Aurélio

A executiva disse que reagirá com iniciativas políticas.

- Nosso esforço é de recompor as iniciativas políticas do partido em três níveis: na sua relação com o governo federal, e conseqüentemente com os partidos de esquerda que compõem conosco a coalizão; na sua relação com a militância, nos congressos estaduais que vão acontecer neste final de semana e no congresso nacional do PT; e, em terceiro, com os movimento sociais organizados, que têm manifestado descontentamento com iniciativas do governo, mas compreendem o embate ideológico - enumerou o secretário nacional interino de Movimentos Populares, Renato Simões, ex-deputado estadual em São Paulo.

Berzoini e Marco Aurélio Garcia, que recebeu a solidariedade do partido, saíram da reunião sem falar com os jornalistas. Humberto Costa, secretário estadual de Cidades de Pernambuco, disse que a privacidade de Marco Aurélio foi invadida:

- Entendemos em que contexto aquilo se deu. A privacidade dele foi invadida. Manifestamos nossa solidariedade pela forma como isso vem sendo usado contra ele, o que não significa que aprovamos quem quer que seja que cometa algum erro. Mas, naturalmente, a forma como ele tem sido tratado pela grande mídia e pela oposição é inteiramente desproporcional ao que aconteceu.

Escolha de Jobim foi criticada por Pomar

Embora a escolha do presidente Lula por Nelson Jobim, ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, para ocupar o Ministério da Defesa não tenha sido discutida na executiva, Valter Pomar lembrou que seu vínculo com os tucanos é "negativo" para o governo.

- Na minha opinião, é claro que isso é ruim, é negativo. Haveria outros quadros, outras opções das quais o governo poderia ter lançado mão. Não sei os motivos pelos quais o presidente fez essa opção, mas estou convencido de que seria mais positivo para o governo que nós tivéssemos alguém, mesmo que do PMDB, que não tivesse esse grau de vínculo com aquelas forças políticas que nós derrotamos na eleição do ano passado - disse, lembrando ainda que essa opinião é também de outros dirigentes do PT que, apesar disso, manifestam "todo desejo do mundo" de que Jobim tenha sucesso e dê solução aos problemas que foi convocado a enfrentar.

Do ponto de vista formal, o PT não critica a escolha de Lula:

- Nosso entendimento é de que essa é uma área onde o critério para a ocupação dos espaços deve ser o da qualificação do gestor, da sua competência técnica, e não questões do ponto de vista partidário. Por esse sentido, nós entendemos a decisão do presidente, e creio que não há nenhuma insatisfação formal do partido com isso. Talvez uma ou outra pessoa, mas formalmente isso não foi objeto de discussão - disse Humberto Costa.