Título: Lula reage, ataca e desafia os que o vaiam
Autor: Pinto, Anselmo Carvalho
Fonte: O Globo, 01/08/2007, O País, p. 8

"Se quiserem brincar com a democracia, ninguém consegue pôr mais gente na rua do que eu", diz ele, que citou 64.

CUIABÁ. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Cuiabá (MT), em evento fechado ao público, não temer vaias. Segundo ele, as ameaças de protestos em solenidades a que pretende comparecer em todo o país não o farão ficar no gabinete em Brasília. Para Lula, a elite não se conforma com as conquistas de um governo dirigido por alguém sem formação universitária. O presidente criticou setores da oposição que, segundo ele, com a derrota eleitoral, não permitem que o Brasil tenha um tempo de união pela governabilidade.

- Minha amizade pessoal é uma coisa, questão partidária é outra, relação com os adversários é outra. Mas tem gente que não pensa assim. Essa gente que não pensa assim fez a Marcha com Deus pela Liberdade em 1964, que resultou no golpe militar. Essa gente que não pensa assim levou Getúlio Vargas ao suicídio. Essa gente que não pensa assim ficou contente com 23 anos de regime militar e está incomodada com a democracia. Porque a democracia pressupõe o pobre ter direitos.

Lula disse que, como líder sindical, nunca temeu os militares, durante a ditadura, que não queriam a realização de assembléias em porta de fábricas. Para ele, os que desejam vaiá-lo são aqueles que estão ganhando muito dinheiro no país. Ele lançou um desafio aos que organizam manifestações contra ele:

- Estou realizando esta solenidade em lugar fechado porque é um ato institucional. Não estou fazendo comício. Mas se alguns quiserem brincar com a democracia, sabem que ninguém neste país consegue colocar mais gente na rua do que eu.

Polícia Militar e Exército impedem manifestação

Lula anunciou recursos de R$574 milhões para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A solenidade aconteceu em um centro de convenções e teve a presença de políticos, empresários e militantes petistas, que lideravam a claque de aplausos. Ao final de cada frase de maior impacto, aplausos efusivos. A Polícia Militar e o Exército impediram que um grupo, liderado por integrantes do PSDB, se aproximasse. Os manifestantes reuniram cerca de 20 pessoas na entrada do centro de convenções e tinham anunciado, na véspera, que haveria novas vaias. O presidente foi vaiado seis vezes na abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio. Semana passada, voltou a ouvir vaias no Nordeste.

- Temos duas orelhas. Uma para ouvir vaias e outra para ouvir aplausos. Os que estão vaiando são os que mais deveriam estar aplaudindo, porque são os que mais ganharam dinheiro no meu governo. A parte pobre da população é que deveria estar zangada. É só ver o quanto ganharam os banqueiros, os empresários.

Lula negou que tenha desistido de viajar ao Sul do país pelo temor de novas manifestações:

- Não pensem que vão deixar o Lula dentro daquele gabinete.

(*) Especial para O GLOBO