Título: Brigadeiro admite: falta de comando agravou caos
Autor: Lima, Maria e Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 01/08/2007, O País, p. 10

"Temos que desafogar Congonhas, mas também recuperar Guarulhos. Esses conflitos costumam levar a situações trágicas".

BRASÍLIA. Em seus últimos dias como presidente da Infraero, o brigadeiro José Carlos Pereira confirmou, em depoimento na CPI do Apagão Aéreo na Câmara, a existência de ações da diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para protelar o início das obras de recuperação da pista de Guarulhos para março, quando terminam as férias de verão, e defendeu a ampliação da fiscalização da Anac nas companhias aéreas. Pereira admitiu também que a falta de um comando firme no governo pode ter contribuído para o caos aéreo.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) leu um relatório em que o brigadeiro afirma que estava tudo pronto para o início das obras em Guarulhos, com possibilidade de concluir em dezembro, mas a Anac estava tentando protelar para março. Perguntado pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) sobre essa acusação à Anac, no momento em que o Conac decide desafogar Congonhas redirecionando os vôos para Guarulhos, o presidente da Infraero respondeu que há uma dicotomia importante e perigosa, pois há necessidade de resolver o problema de Congonhas, mas sem colocar em risco Guarulhos.

- Me parece um caso clássico de conflito de interesses de decisões binárias estratégicas. Temos que desafogar Congonhas, mas é necessário recuperar Guarulhos. Esses conflitos de decisões estratégicas binárias costumam levar a situações trágicas - disse.

No depoimento, Pereira informou que ontem, em reunião do Conac, o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, lhe deu um ultimato e prazo até as 17h de hoje para que a Infraero apresente soluções e alternativas para três problemas vitais a fim resolver parte do caos aéreo: aceleração do grooving em Congonhas; aumento da capacidade do Aeroporto de Viracopos, em Campinas; e solução para a reforma da pista de Guarulhos. O presidente da Infraero voltou a afirmar que a reforma de Guarulhos é urgente.

A maioria dos parlamentares centrou as perguntas sobre a liberação da pista de Congonhas antes do acidente no dia 17 de julho. Ele contrariou o depoimento do presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e disse que a agência participou, sim, do processo de liberação, mesmo com a não realização de obras complementares, como os groovings (ranhuras para escoar água).

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) quis saber quando o cidadão poderá voltar a voar sem sustos.

- Com esse novo plano, acredito que de sete meses a um ano poderemos voltar a deslanchar - disse o presidente da Infraero.