Título: Conversa revela nova hipótese: falha no acionamento do freio aerodinâmico
Autor: Otavio, Chico e Galante, Alexandre
Fonte: O Globo, 02/08/2007, O País, p. 4

Spoilers, nada", diz o co-piloto no pouso. "Aiiii, olha isso", reage o piloto.

A revelação da conversa na cabine do Airbus da TAM que, no dia 17, se chocou contra um prédio da empresa próximo ao Aeroporto de Congonhas, acrescenta mais uma hipótese à lista de causas do acidente. A 22 segundos da batida, o co-piloto diz: "spoilers, nada". O piloto responde com um "aiiii, olhe isso". Isso pode indicar que os spoilers, extensão das asas que funcionam como freios aerodinâmicos, fixando o avião no solo, não armaram corretamente. Para Gustavo Cunha Mello, especialista que analisou mais de 175 mil acidentes aéreos, a possibilidade de falha mecânica não pode ser descartada.

- É prematuro responsabilizar o piloto - disse.

A transcrição atesta que o piloto, Kleyber Lima, e o co-piloto, Henrique Stephanini , conheciam as condições da pista - a torre avisou que estava molhada e escorregadia - e que o reverso estava travado. Mas ambos se mostraram surpresos, três segundos após o toque na pista, com o não posicionamento correto dos spoilers.

Os spoilers são usados para tirar a sustentação das asas do avião, permitindo que o peso total da aeronave seja colocado sobre o trem de pouso. Desta forma, é assegurado o máximo atrito dos pneus à pista, o que permite a frenagem em tempo hábil.

Aviões modernos têm spoilers automáticos

A maioria dos aviões tem spoilers automáticos: após o toque na pista, eles são acionados. O piloto programa o funcionamento dos spoilers, antes do pouso, numa alavanca de quatro posições localizada no painel. Ele leva em conta o tamanho da pista, as condições meteorológicas e o peso da aeronave.

Na primeira posição da alavanca, o funcionamento dos spoilers é automático. Na segunda, ele é desativado. Na terceira, é colocado em meia abertura. Na quarta, abertura total. As imagens colhidas pela câmera da Infraero em Congonhas mostrou que os spoilers estavam, de fato, fechados.

Gustavo Mello levanta três possibilidades para o não acionamento dos spoilers: tentativa de arremeter a aeronave (justificaria os spoilers a zero grau), erro na programação durante o procedimento de aproximação (no briefing entre o piloto e o co-piloto, o acionamento do spolier pode ter sido esquecido ou ter sido programado incorretamente) e pane nos computadores do Airbus 320.

Investigações sobre um acidente ocorrido Polônia, em setembro de 1993, também com um A-320, revelaram problemas com os spoilers da aeronave. O avião pousou num dia chuvoso com vento de cauda. O toque na pista, feito com velocidade um pouco acima da recomendada, e a pista molhada fizeram com que os freios do avião fossem acionados tardiamente. A chuva ocasionou a aquaplanagem, que retardou a desaceleração.

No Airbus, o computador controla o momento de acionamento dos spoilers, dos freios das rodas e do reverso, que são ativados somente abaixo da velocidade programada e quando o trem de pouso absorve todo o peso do avião. No acidente na Polônia, o Airbus acabou percorrendo toda a pista em velocidade elevada, e se chocou com prédios do aeroporto de Varsóvia. Um dos tripulantes e um passageiro morreram.

O sistema automático do avião pode ser desacoplado durante uma emergência. Basta, para isso, que o piloto pise nos pedais de freio. Mas as investigações não mostraram, até agora, se o piloto recorreu aos pedais para tentar parar o avião e, se recorreu, se o avião respondeu ao comando ou se o sistema eletrônico não deixou a ordem ser executada.

Aviador considera prematuro culpar o piloto

O coronel aviador da reserva Franco Ferreira, de 65 anos, também considerou prematuro culpar o piloto pelo acidente.

- É preciso ter muita certeza para apontar o aviador como responsável.

O coronel lembrou que a pilotagem da aeronave é um dos 13 fatores que compõem o aspecto operacional de um vôo. Segundo ele, o acidente começou a acontecer com o travamento do reverso da aeronave e a decisão da empresa de retardar o conserto.

COLABOROU: Soraya Aggege