Título: Leitura do diálogo provoca comoção na CPI
Autor: Lima, Maria e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 02/08/2007, O País, p. 8

Falta de software impediu que parlamentares ouvissem conversa dos pilotos da TAM com a torre.

BRASÍLIA. Mesmo sem o áudio, a leitura da transcrição do dramático diálogo travado entre pilotos do vôo 3054 e a torre de controle de Congonhas, segundos antes da explosão, provocou comoção, choro, constrangimento e silêncio entre os que lotaram ontem a sala da CPI do Apagão Aéreo da Câmara. Nos 12 minutos finais de vida, mesmo com o alerta da torre de que a pista estava molhada e escorregadia, os pilotos comemoram o fato de o pouso ter sido autorizado para Congonhas. Comunicam aos passageiros que estava tudo OK, checam os procedimentos de aterrissagem e, nos 25 segundos entre o toque na pista e a explosão, revelam o pavor diante da impossibilidade de controlar e frear a aeronave. Os últimos registros da transcrição mostram o som de gritos e da explosão.

Por falta de um software que possibilitasse a leitura do CD-ROM com o áudio das conversas, apenas um relatório por escrito, contendo a transcrição dos diálogos, em inglês, foi projetado por oficiais da Aeronáutica no plenário da CPI. O presidente em exercício da comissão, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), solicitou que o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa), fizesse a tradução para o português. Ele pediu que a tarefa fosse delegada a outra pessoa, pois estava ali naquele momento como porta-voz da Aeronáutica e não queria incorrer em conduta indevida. Os deputados Rocha Loures (PMDB-PR) e Luciana Genro (PSOL-RS) se ofereceram para fazer a tradução simultânea com a exibição do relatório.

Diante de uma platéia silenciosa e chocada, cada um lia uma página, alternadamente, cabendo a Luciana a parte final e mais impactante. A transcrição revela em tom dramático as últimas palavras dos comandantes. Até gritos de uma comissária foram captados pelo som da cabine dos pilotos. A transcrição dos diálogos dentro do Airbus da TAM mostra um dos pilotos gritando para o outro desacelerar, pouco antes de um barulho de choque.

"Desacelera, desacelera", grita um dos pilotos.

"Não dá, não dá. Ai, meu Deus", responde o outro.

Em seguida, aparece uma voz feminina. A última frase é "Oh! Não".

A tradução dos diálogos dos pilotos mostra que o avião não apresentava problema no momento em que se aproximava da pista de Congonhas. A transcrição mostra que eles não tentaram arremeter (abortar o pouso) ao perceber que não conseguiriam frear, hipótese que chegou a ser cogitada dias depois do acidente. Após a leitura dos diálogos, deputados da CPI do Apagão Aéreo passaram a questionar a possibilidade de que uma falha humana tenha causado a tragédia. Nos registros, ouve-se que um dos pilotos tentou desacelerar a aeronave, mas não conseguiu.

- Não dá para dizer que houve falha humana. Pelo que vimos aqui, os pilotos fizeram todos os procedimentos, mas a máquina não correspondeu - disse o relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS).

- A única conclusão que podemos tirar é que não foi a pista de Congonhas que provocou o acidente - disse o governista Eduardo Cunha.