Título: CPI: deputados se irritam com Aeronáutica
Autor: Lima, Maria e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 02/08/2007, O País, p. 8

Parlamentares reclamam de vazamento e aprovam convocação do ministro Jobim, que evita falar da caixa-preta.

BRASÍLIA. Deputados da CPI do Apagão Aéreo se sentiram ludibriados pela Aeronáutica por causa do envio de dados incompletos, da suspeita de edição de trechos transcritos e do vazamento de dados técnicos e diálogos das caixas-pretas do Airbus A-320 da TAM que explodiu em 17 de julho. A irritação foi tanta que a CPI aprovou a convocação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para explicar o vazamento de informações, com indicação das pessoas que tiveram acesso aos dados.

O ministro ontem se recusou a falar sobre os dados da caixa-preta e marcou um depoimento à CPI do Apagão Aéreo no Senado para a quarta-feira.

- Não compete ao ministro decidir sobre este assunto. Cabe aos órgãos decisórios de investigação. Estou conhecendo as hipóteses, mas não cabe a mim emitir qualquer juízo. Mesmo se tivesse a competência de fazê-lo, que não tenho, não há elementos ainda para afirmar definitivamente qualquer coisa.

Os parlamentares esperavam que os dois CD-ROMs entregues na véspera, com recomendação de sigilo, contivessem o áudio com os diálogos da cabine. Temendo que a Câmara fosse acusada pelo vazamento de informações que pudessem beneficiar o governo em relação à pista de Congonhas, a CPI lacrou e trancou o material num cofre que só foi aberto ontem, na presença do brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa), convocado para explicar os procedimentos do vôo.

O objetivo era ouvir o áudio e, em sessão aberta, divulgar a transcrição das conversas. Mas Kersul esfriou as expectativas: avisou que não havia o software necessário para ler os CDs.

- Ninguém ouvirá o que os pilotos falaram aqui hoje - informou Kersul, explicando que só foi possível mandar um relatório com a transcrição dos últimos 12 minutos de vôo, mesmo assim em inglês.

Kersul isenta CPI pelo vazamento

Oposicionistas levantaram a hipótese de o governo estar interessado no vazamento. O deputado Carlos William (PTC-MG) acusou a Aeronáutica:

- A Aeronáutica poderia evitar que a CPI passasse por esse vexame. O que trancamos no cofre? Nada! Que história é essa de software que ninguém lê? Parece coisa de ET... A Aeronáutica nos fez de palhaços!

Kersul disse que não sabia a fonte do vazamento, mas eximiu a CPI de responsabilidade, mesmo porque o CD-ROM não podia ser lido:

- O que temos, entregamos. Se não é suficiente, é o que temos. Trouxemos dos EUA só o que foi considerado importante para as investigações.

Mais tarde, após a sessão secreta em que a CPI analisou dados técnicos da segunda caixa-preta, a oposição acusou os governistas de comemorarem o fato de as investigações apontarem para possível erro dos pilotos, embora Kersul não tenha excluído a pista de Congonhas como um dos fatores do acidente.

- A gente não pode cair na armadilha de condenar ou inocentar o governo. Isso tudo pode ser uma grande cortina de fumaça para eximir o governo de responsabilidade na crise aérea. Eles saíram comemorando - disse Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Vanderlei Macris (PSDB-SP) lembrou do gesto do assessor especial da Presidência:

- Parece o top, top, top do Marco Aurélio Garcia. A turma do PT estava feliz da vida.

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