Título: Crise imobiliária volta a sacudir o mercado
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 02/08/2007, Economia, p. 30

Bolsas caem na Europa e na Ásia e dólar sobe 0,47% no Brasil. Analistas prevêem recuo da Bovespa para 50 mil pontos.

O temor de que a crise no mercado de hipotecas de alto risco (as chamadas subprime) dos Estados Unidos se alastre pela economia mundial voltou a derrubar as bolsas em boa parte do mundo. Na Europa e na Ásia, as perdas chegaram a quase 4%, após alguns bancos divulgarem novos problemas em seus fundos de crédito. Em mais um dia de forte volatilidade, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e os principais índices americanos acabaram fechando em leve alta, após registrar fortes perdas durante todo o pregão. Na Bovespa, o avanço foi de apenas 0,09%, aos 54.233 pontos.

No câmbio, a moeda americana fechou mais uma vez em alta. O dólar subiu 0,47% e ficou cotado a R$1,892. O risco-Brasil, que ficou em alta boa parte do dia, encerrou aos 199 pontos centesimais, em queda de 6,57%. A Bolsa de Nova York fechou em alta de 1,14%, depois de um dia de muita volatilidade. A bolsa de tecnologia Nasdaq subiu 0,3% e o S&P 500, 0,72%. O barril do petróleo no mercado americano encerrou em baixa de 2,2%, a US$76,53, depois de bater a máxima histórica pela manhã e ser negociado a US$78,77.

O início do nervosismo nas bolsas começou quando o banco australiano Mcquaire alertou que dois de seus fundos lastreados em subprime podem registrar perdas de 25%. Foi a terceira instituição da Austrália a anunciar prejuízos em menos de duas semanas. Outro fator que influenciou o mercado foi a notícia de que o americano Bear Stearns suspendeu os resgates em um novo fundo problemático. No início de junho, o grupo teve de injetar US$1,6 bilhão em um fundo deficitário. Com isso, a Bolsa de Xangai caiu 3,81%, uma das maiores perdas dos últimos dois meses, segundo analistas. No Japão, a Bolsa de Tóquio caiu 2,19% e o iene alcançou o seu maior valor em três meses.

Na Europa, mais perdas. Em Londres, a queda chegou a 1,72%. Em Frankfurt, na Alemanha, e em Paris, na França, o recuo foi de 1,45% e 1,68%, respectivamente.

A Associação Nacional dos Corretores de Imóveis dos Estados Unidos divulgou que as vendas pendentes de imóveis residenciais antigos tiveram queda de 8,6% em junho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

- As bolsas asiáticas e européias sofreram com os anúncios de dificuldades em outros fundos de crédito de alto risco. O setor mais afetado na Europa foi o financeiro, que liderou as perdas nos principais índices, devido à cautela diante de eventual contágio a outros segmentos de crédito no setor bancário - disse Gustavo Barbeito, da Prosper Gestão de Recursos.

Para analistas, a aversão a risco continuou ontem e deve prosseguir no curto prazo. A maioria dos bancos internacionais se desfaz de seus investimentos em países emergentes para compensar as perdas com os subprime, que estão sem liquidez.

- Há um processo de fortes correções no mercado. Os estrangeiros estão reduzindo suas posições no Brasil. Não se sabe mensurar até que ponto esta crise pode alcançar. A Bolsa pode cair até os 50 mil pontos a curto prazo, mas, depois, como os fundamentos da economia estão consolidados, a Bovespa pode fechar o ano com 60 mil pontos - apontou José Goes, sócio-gestor da Mandarim.

Desde a semana passada, quando a crise no supbrime ganhou força mundo afora, a Bolsa de Valores já perdeu 6,23% de seu valor de mercado. Ontem, segundo números da consultoria Economática, as 257 companhias listadas na Bolsa valiam R$1,827 trilhão.

Gafisa e Lojas Americanas entram no Ibovespa

Ontem, a Bolsa divulgou a primeira prévia da nova carteira do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas: o número de ações passa de 59 para 61 com a entrada do papel ordinário (ON, com direito a voto) da Gafisa e o preferencial (PN, sem direito a voto) da Lojas Americanas. Assim, o peso da Petrobras cai de 13,85% para 13,69%, enquanto o da Vale - cujas ações são as mais negociadas da América Latina - sobe de 9,78% para 10,11%.

Ontem, o BNDES divulgou que a oferta de debêntures, títulos de renda fixa de longo prazo, emitidas pelo braço de investimentos do banco, a BNDESPar, teve a participação de 8,8 mil pessoas físicas, o dobro do alcançado no ano passado, mas abaixo dos 30% destinados pelo banco. Os pequenos investidores ficaram com 180.985 títulos, ou 13,40% das 1,35 milhão de debêntures simples que foram oferecidas pela instituição, com valor nominal de R$1,35 bilhão.