Título: Um pouco de ar
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O Globo, p. 2

A oposição andou avisando que na reabertura do Congresso aumentaria o fogo contra o presidente investigado do Senado, Renan Calheiros. Aqui mesmo, assim falou o senador Agripino Maia, líder do DEM: por onde passou, no recesso, diz ter ouvido cobranças pelo afastamento de Renan do cargo. Mas nem democratas nem governistas parecem ter pressa, neste momento.

Cada qual tem suas razões. No auge da pressão para que Renan renunciasse, em junho, ele teve, no PT, o apoio decisivo da líder Ideli Salvatti, de Aloizio Mercadante, de Tião Viana e outros mais, ao passo que Eduardo Suplicy e Augusto Botelho juntavam-se à oposição e outros ficavam na janela. A divisão na bancada é a mesma, mas começou a parecer ao PT que, se Renan tiver que sucumbir à devassa em seus negócios com gado, melhor será empurrar o desfecho do que enfrentar uma sucessão agora, com a oposição na ofensiva. Quando a substituição ocorre no segundo ano do mandato bienal, já não se faz nova eleição. A presidência fica para o primeiro vice-presidente, que, afortunadamente para o PT, vem a ser Tião Viana.

Contas de petistas: se democratas e tucanos conseguem ejetar Renan da cadeira este ano, mesmo preservando o mandato de senador (o que não seria difícil para Renan, sob voto secreto), haverá eleição e eles tentarão eleger o sucessor. PSDB e DEM formariam um bloco para contornar o fato de que a maior bancada é a do PMDB, que, por isso, tem direito ao cargo. Com um bom nome, a oposição teria uma chance de ganhar, já que o PMDB só dispõe de Gerson Camata. Outro seria Garibaldi Alves, mas ele se queimou com aquele relatório agressivo ao governo, no desfecho da CPI dos Bingos. Esta é a situação que torna conveniente, para o PT, empurrar o caso para 2008.

Os democratas reduziram a carga nestes primeiros dias, mas isso pode ser passageiro. Eles agora lidam com a substituição de ACM na poderosa Comissão de Constituição e Justiça. Querem herdar a vaga. Estão no páreo Edison Lobão e Marco Maciel, pelo menos. Demóstenes Torres teria a mesma pretensão, mas se Renan tiver um átimo de influência sobre a escolha, barrará o senador, que tem sido algoz impiedoso. E Renan, enquanto estiver no cargo, enquanto tiver o apoio de todo o PMDB, destacando-se o de Sarney, terá influência, sim. Pode até articular a destinação da vaga a outro partido, embora isso não lhe convenha.

Os democratas já estão dispostos a deixar que ele realize a votação a Lei Geral da Microempresa, que interessa à sua própria base. E, com isso, Renan mostraria comando sobre a Casa, o que lhe ajuda.

Mas tudo isso está condicionado ao resultado da investigação da Polícia Federal. Se ela concluir que Renan usou notas frias, não quem o segure.