Título: A face suave da crise
Autor: Menezes, Maiá e Otávio, Chico
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O País, p. 3

Economista atrai olhares na estréia como assessora de Jobim.

Desde ontem, a crise aérea ganhou um tom mais suave. O semblante fechado, solene, que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem usado em suas aparições públicas, contrastava ontem, durante um seminário no Rio, com o sorriso discreto, os olhos brilhantes e os traços finos de Solange Vieira, na estréia desta economista do BNDES como assessora especial do ministro.

Pouco antes de abrir, na sede do BNDES, o "Segurança e Desenvolvimento no Sistema Aéreo", organizado pelo Fórum Reis Velloso, Jobim pediu ao presidente do banco, Luciano Coutinho, que autorizasse a cessão da economista.

- Conversei com o presidente do BNDES, no sentido de que pudesse ceder Solange Vieira para tratar a aviação do ponto de vista econômico. Há ensaios econômicos no ministério que têm que ser examinados, a interação da malha aérea com a possibilidade de pequenas empresas retomarem vôos regionais - disse Jobim.

Antes mesmo de definir o seu papel da Defesa, ela partiu para a ação. Durante toda a manhã, sentada atrás de Jobim, ficou atenta às apresentações, cochichou várias vezes com o ministro, fez anotações. Só parou para devorar um saco de amendoim. Perguntada sobre a sua futura função, sorriu ao responder:

- Vou assessorar em tudo.

Ex-secretária de Previdência Complementar no governo Fernando Henrique, esta economista de 38 anos, com mestrado na Fundação Getúlio Vargas, trabalha há dez anos no BNDES. Por onde passou, colecionou admiradores, mas a beleza não pode ser confundida com fragilidade.

Ao deixar o governo, em 2001, demitida pelo então ministro da Previdência, Roberto Brandt, foi acusada de ser dura demais com as empresas de previdência complementar. Um dos desafios prováveis de Solange, agora na Defesa, será a busca de saídas para enfrentar os monopólios existentes na aviação civil brasileira.

- Falei para a dr. Solange: faço a interação com o BNDES porque, afinal de contas, desse assunto não entendo nada. E, se eu não entendo nada, tenho que colocar alguém que entenda. Porque assessor tem que saber mais do que nós. Se sabe menos é bajulador - comentou o ministro. (Chico Otavio)