Título: Presidente compara caos aéreo a metástase
Autor: Braga, Isabel e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O País, p. 5

Lula diz que foi surpreendido pela gravidade da crise e afirma que, nas últimas cinco eleições, tema não foi debatido

BRASÍLIA. Na reunião do Conselho Político, que reúne os partidos da coalizão de governo, ontem, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que foi surpreendido pela crise aérea, alegando que nas últimas cinco eleições de que participou não se tratou do tema nos debates. A crise da Varig, a falência da então maior empresa de aviação do país e os problemas que isso acarretou, porém, são anteriores à campanha eleitoral do ano passado. E o choque do Boeing da Gol com o Legacy, que matou 154 pessoas, ocorreu dois dias antes do primeiro turno das eleições de 2006.

Aparentemente, tudo estava bem, disse ele

Lula chegou a comparar o estágio atual do caos na aviação brasileira a uma metástase. Nas palavras do presidente, aparentemente tudo estava bem, mas, ao se detectar o problema, descobriu-se que a situação era bem mais grave.

- O caos aéreo é como uma metástase. A gente acha que está tudo bem, mas só descobre que o problema é bem maior quando ele (o câncer) surge - disse Lula aos aliados, segundo relatos de parlamentares.

O presidente disse que, nos debates ao longo das campanhas eleitorais, o setor aéreo nunca foi debatido e que a única preocupação relativa ao Ministério da Defesa, nas campanhas, era em relação à segurança nacional. Segundo os líderes, Lula voltou a afirmar que, a partir de agora, vai reestruturar a pasta da Defesa para cuidar do setor aéreo.

- Na reunião, o presidente Lula chegou a demonstrar sua surpresa com a dimensão da crise aérea. Lembrou que nunca, em nenhum debate, ninguém tratou desse problema do espaço aéreo. Mas ele garantiu que, a partir de agora, o Ministério da Defesa será estruturado para essa função. Agora, essa reestruturação não será uma coisa rápida - relatou o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

De acordo com os políticos que estiveram no Planalto, o presidente Lula também comparou o caos aéreo a um cachorro com muitos donos, mas que ninguém cuida. Foi uma referência direta aos problemas de gestão e aos muitos órgãos que cuidam do setor aéreo. De acordo com Lula, essa missão de cuidar do setor passou a ser do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que, segundo disse, passou a ter carta-branca para tratar da questão.

- Um cachorro com muito dono morre de fome, e ninguém cuida - disse Lula de acordo com relatos.

Presidente diz que não foi fácil convencer Jobim

Lula contou ainda aos aliados que não foi fácil convencer Jobim para essa tarefa e que o novo ministro tem autonomia para agir, mudar e fazer o que for preciso.

- O presidente Lula deixou claro que o ministro Nelson Jobim chegou com carta branca para reformular tudo e dar uma solução para o setor aéreo brasileiro - disse o líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE).

O presidente admitiu ainda que o Ministério da Defesa é uma pasta que ainda "não pegou", "não decolou". Num desabafo, chegou a dizer:

- Na prática, dentro daquilo que sempre foi o desejo inicial, o Ministério da Defesa ainda não funciona como o previsto.

COLABORARAM Ilimar Franco e Luíza Damé