Título: Para entidades, país perde prestígio
Autor: Lima, Maria e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O País, p. 8

Presidente de organização internacional diz que vazamento politiza investigação.

WASHINGTON. O Brasil não sofrerá punições materiais pelo fato de suas autoridades terem permitido o vazamento dos dados das caixas-pretas do Airbus da TAM. O país, no entanto, perderá prestígio e confiabilidade internacionais - o que, daqui por diante, colocará sob suspeita qualquer tipo de investigação a ser realizada no setor aéreo no país. Essa é a opinião de entidades internacionais, entre elas a ICAO (International Civil Aviation Organization), que em 1944 estabeleceu a Convenção de Chicago - tratado assinado pelo Brasil e que determina sigilo total sobre o conteúdo das caixas-pretas até que as investigações estejam encerradas.A entidade não tem poder de coação:

- No final, cabe a cada país decidir se divulga ou não as informações - disse Denis Chagnon, porta-voz da ICAO, sediada em Montreal, Canadá.

Bill Voss, presidente da Flight Safety Foundation (FSF), organização internacional independente cujo objetivo é o de melhorar a segurança da aviação, sediada em Alexandria, no estado de Virginia, EUA, lamentou:

- Isso representa uma politização das investigações.

Voss, ex-diretor da ICAO, disse que o episódio repercute muito mal nos 52 países que assinaram a Convenção de Chicago. Segundo esse documento, a liberação de dados de caixas-pretas em meio à uma investigação só pode ser obtida por ordem judicial, para fins da investigação; jamais para o público.

Jim Burin, diretor de programas técnicos da FSF, reforçou: - Geralmente as únicas pessoas com acesso à tais informações são as autoridades da aviação. E elas sabem que as informações têm que ser protegidas. Se foram elas que liberaram, isso é ruim. Se foram outras pessoas, isso é ainda pior. Isso só indica que alguma coisa não está bem.