Título: Presidente da TAM: 'A bordo, manual é a Bíblia'
Autor: Lima, Maria e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O País, p. 8

Ao depor na CPI, Bologna omite recomendação da Anac de não pousar com reverso travado em pista molhada.

Legenda da foto: ENCONTRO NA CPI: Bologna (de pé, no centro), Castello Branco, Casagrande (à esquerda), além de José Carlos Pereira (sentado) e Zuanazzi.

BRASÍLIA. Visivelmente abatido com o bombardeio dos parlamentares da CPI do Apagão Aéreo sobre problemas mecânicos no Airbus que explodiu dia 17 de julho, o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, omitiu um trecho de determinações de segurança da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em janeiro deste ano. O documento recomenda que os pilotos usem "máximo reverso assim que possível", ao pousar nas pistas molhadas de Congonhas e Santos Dumont. A resolução recomenda que os pilotos se certifiquem que o avião esteja, nessas condições, com todos os sistemas necessários funcionando "notadamente o reverso", entre outros equipamentos.

O relator Marco Maia (PT-RS) pediu estudo para saber se a TAM descumpriu a determinação da Anac. Como o avião não tinha um dos reversores funcionando, não deveria ter pousado na pista de Congonhas, que, além de molhada, estava escorregadia e não tem área de escape. Vic Pires (DEM-PA) flagrou a omissão do presidente da TAM, e pediu-lhe que relesse o documento, citando a necessidade do reverso. Pires enfatizou que a norma da Anac deveria se sobrepor ao manual da fabricante Airbus, que autoriza vôos até dez dias com falha nos reversos.

- Esqueceu de ler esse trecho? Tinha como ser usado o máximo reverso?

Documento serve apenas de base

Bologna disse que o documento da Anac permite às empresas adotarem procedimentos diferentes dos recomendados, desde que comprovem à agência sua segurança e eficácia. Segundo ele, a Anac homologou os procedimentos da TAM. Ele repetiu várias vezes que o Airbus estava apto, tecnicamente, a pousar até mesmo com os dois reversos inoperantes. E afirmou que o documento é apenas um dos textos que servem de base à elaboração do manual de vôo que orienta os pilotos.

- A bordo, o manual é a Bíblia - disse Bologna, ignorando as regras da Anac.

Mais tarde, na CPI do Senado, desta vez na presença do presidente da Anac, Milton Zuanazzi, coube ao líder do DEM, Agripino Maia (RN), questionar os dois sobre o descumprimento da norma. A poucos metros de Bologna, Zuanazzi disse que cabe às empresas acatar ou não as recomendações.

- As empresas ficam liberadas para trabalhar essas recomendações em cima de seus manuais - disse Zuanazzi.

Questionado à exaustão se era disposição da empresa continuar operando com reverso bloqueado, Bologna admitiu que os aviões da TAM não voarão mais assim:

- Não se voará com reverso pinado. Se isso ocorrer é "no go" (sigla para abortar a viagem), vamos nos reportar direto ao fabricante - disse Bologna.

Sobre os mandamentos da TAM, que dizem "acima de tudo os lucros", respondeu:

- Como os mandamentos de Deus, devem ser vistos como um todo. Por ser o primeiro, não significa que seja o mais importante.

O presidente da TAM disse que a companhia tem US$1,5 bilhão para as indenizações e gastos materiais do acidente. Segundo ele, o seguro cobre não só os danos sofridos pelas famílias dos mortos, como também pelos moradores do entorno do Aeroporto de Congonhas e os comerciantes da região.

- A gente não consegue ter de volta nossos entes queridos, mas podemos dar as necessárias condições de apoio. As indenizações serão extremamente suficientes, extremamente amplas para cobrir todos os direitos dos vitimados.