Título: Pivô do mensalão, quadrilha continuava agindo
Autor: Carvalho, Jailton de e Martins, Jorge
Fonte: O Globo, 03/08/2007, O País, p. 13

Dois anos após escândalo, PF prende empresários e servidores acusados de fraudar licitações milionárias dos Correios.

BRASÍLIA e RIO. Dois anos depois do mensalão, o maior escândalo do primeiro mandato do governo Lula, os Correios estão às voltas com novas denúncias de fraude. Na Operação Selo, a Polícia Federal prendeu ontem o lobista Arthur Wascheck Neto, um dos pivôs do caso, e quatro empresários e servidores públicos acusados de direcionar licitações de contratos milionários da estatal. Vinte empresas são investigadas por envolvimento nas fraudes, que, segundo a polícia e o Ministério Público, continuaram mesmo com o setor sob vigilância desde maio de 2005.

Wascheck ficou conhecido por contratar, no início de 2005, dois arapongas para gravar o ex-chefe do Departamento de Compras dos Correios Maurício Marinho recebendo um suborno de R$3 mil e fazendo confidências sobre o esquema de corrupção na estatal. Irritado com o cerco ao aliado, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou o mensalão.

PF compara disputa com guerras do tráfico no Rio

O delegado Daniel França, da PF, comparou a suposta disputa entre Waschek e o grupo de Maurício Marinho com as guerras do narcotráfico em morros do Rio de Janeiro.

- Uma quadrilha foi afastada, e outra organização criminosa tomou o lugar dela, assim como os traficantes fazem nos morros quando alguns saem mortos ou presos. No serviço público, quando uma quadrilha sai, outra entra e começa a praticar ilícitos no mesmo lugar da que saiu - disse França.

Wascheck foi preso de manhã no apartamento em que mora, em Brasília. A polícia também prendeu em Brasília o empresário Antônio Félix Teixeira e o funcionário dos Correios Luiz Carlos de Oliveira Garritano. Também foram detidos o empresário Marco Antônio Bulhões, em Recife, e outro servidor dos Correios, Sérgio Dias, em São José do Rio Preto (SP). Com a ajuda de procuradores e sete fiscais da Controladoria-Geral, a PF fez buscas em 25 endereços da organização em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Segundo o procurador Bruno Acioli, o grupo de Wascheck subornava servidores em troca de informações privilegiadas e direcionamento de licitação. Com base nestes contatos, o lobista intermediava a participação de empresas em concorrências viciadas. A polícia e o Ministério Público sustenta que o esquema conseguiu fechar vários contratos.