Título: Chefe de quadrilha fez doação a Conde em 2004
Autor: Otavio, Chico e Amora, Dimmi
Fonte: O Globo, 04/08/2007, O País, p. 14

Condenado à prisão por integrar máfia dos combustíveis, Renan Leite doou R$50 mil para futuro presidente de Furnas.

Uma lista oficial e outra ainda investigada pelo Ministério Público e Polícia Federal revelam a ligação entre integrantes de dois esquemas descobertos recentemente pela Polícia Federal e campanhas políticas do futuro presidente de Furnas, o ex-prefeito Luiz Paulo Conde.

A prestação de contas de Conde à Justiça Eleitoral, na campanha pela Prefeitura do Rio em 2004, mostra que o candidato recebeu R$50 mil de Renan de Macedo Leite, como noticiou ontem a "Folha de S.Paulo". Preso na Operação Poeira no Asfalto, no mesmo ano, Renan foi condenado a seis anos e um mês (dos quais cinco anos e seis meses de reclusão) por chefiar quadrilha que adulterava combustíveis no Rio.

O nome de Conde também aparece em papel manuscrito, apreendido este ano, na Operação Furacão, na casa de Luciano Andrade do Nascimento, o Luciano Bola, acusado de ser o contador da máfia dos caça-níqueis. Na lista, que foi enviada à perícia, o nome "Conde" aparece junto ao número "50,00", que pode indicar uma doação de R$50 mil em agosto de 2002, quando ele era candidato a vice na chapa de Rosinha Garotinho.

Luciano Bola está foragido. Na lista, aparecem supostas doações para outros 11 políticos do Rio, incluindo quatro candidatos ao governo do estado em 2002.

Renan era assessor de deputado estadual

Renan foi condenado, em primeira instância, por corrupção ativa, advocacia administrativa e formação de quadrilha. Proprietário de uma rede de postos de combustíveis e assessor do deputado Domingos Brazão, ele foi flagrado negociando notas fiscais frias com Paulo Roberto Prette, dono de empresas de distribuição de combustíveis, também preso.

A máfia, segundo apurações da PF, teria causado prejuízo de mais de R$5 bilhões aos cofres públicos com a adulteração de combustíveis e a sonegação de impostos.

Quando foi preso, Renan também trabalhava como assessor parlamentar de Brazão. Ele ajudou a financiar a campanha do irmão do deputado, Chiquinho Brazão (PMDB) a vereador da cidade, com o empréstimo de um veículo, e também deu recursos à campanha do ex-deputado federal André Luiz, cassado por corrupção em 2004.

Como assessor de Brazão, Renan tentava resolver problemas de postos de gasolina do grupo junto à Receita Estadual.

Ontem, em Brasília, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), disse que Conde tem que se explicar:

- Ele tem que dar uma satisfação à opinião pública. Pelo menos não foi caixa dois. Foi doação oficial. Mas um homem público tem que saber de quem recebe ajuda para amanhã não se complicar.

Conde: não havia nada contra doador na época

Luiz Paulo Conde alegou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que, na data da doação, não havia nada contra Renan. Ele disse ainda que a doação foi declarada à Justiça e aprovada. Quanto à lista da máfia dos caça-níqueis, a assessoria alegou desconhecer o andamento do caso na Polícia Federal.