Título: Valor roubado de matadouro ligado a Renan sob suspeita
Autor: Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 04/08/2007, O País, p. 14
Dona da Mafrial diz que foram levados R$17 mil em dinheiro, mas ladrões teriam reclamado de achar apenas R$400.
MACEIÓ. As investigações da Polícia Civil de Alagoas sobre o assalto ao frigorífico Mafrial - citado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como intermediário na venda de gado de suas fazendas - apontam a primeira contradição: o valor em dinheiro que teria sido levado pelos criminosos. Segundo o delegado Haroldo Gonçalves, a dona do frigorífico, Zoraide Brandão, disse à polícia que teriam sido levados R$200 mil em cheques e R$17 mil em dinheiro. Levantamentos dos policiais, porém, detectaram que foram roubados R$400. O inquérito será concluído em 30 dias. Não se sabe se documentos foram levados.
Bando teria perguntado sobre "documentos do Renan"
O Matadouro Frigorífico de Alagoas (Mafrial) foi assaltado na madrugada de quinta-feira. Foi o segundo roubo sofrido pelo matadouro, que fica na cidade de Satuba, a 20 quilômetros de Maceió. Segundo a polícia, os assaltantes entraram no estabelecimento e renderam um motorista, que chegava do interior com um carregamento de bois para o abate. Os vigilantes José Alex dos Santos e Eduardo Rufino de Lima e mais quatro funcionários também foram rendidos, salas foram vasculhadas, e os assaltantes teriam reclamado de R$400 que estariam no cofre do Mafrial e pedido "os documentos de Renan".
De acordo com a documentação apresentada por Renan à Comissão de Ética do Senado, o Mafrial compraria carne de suas fazendas. O senador é acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista.
Na última terça-feira, o Mafrial recebeu técnicos da Secretaria da Fazenda que pediram o relatório de abate de gado, mas os funcionários alegaram que não poderiam apresentar a documentação, porque estava com o contador da empresa. Foi dado prazo de 72 horas. Na madrugada de quinta-feira, o Mafrial foi assaltado. Segundo o diretor de Fiscalização de Estabelecimentos da Secretaria, Marcelo Machado, toda a documentação foi entregue quinta-feira à tarde.
Dona de cartório de Murici vai depor segunda-feira
O juiz-auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça (TJ), Sóstenes Alex, confirmou para segunda-feira o depoimento da dona do cartório de Murici, a tabeliã Maria de Lourdes Ferreira. O cartório está sob intervenção do TJ, suspeito de atuar num esquema de grilagem de terras e de agir a mando do deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), irmão de Renan. Cinco fazendas de Renan e Olavo são investigadas pela corregedoria.
O técnico agrícola e primo de Olavo, Genival Mendes de Melo, entrou com representação no Ministério Público Federal, acusando Maria de Lourdes de ter incorporado terras da fazenda São Bernardo, arrematada por ele em 2005 em leilão da Justiça do Trabalho, à fazenda Capoeirão, de Olavo Calheiros. No outro processo, a procuradoria solicitou informações ao cartório sobre terras da região, mas a dona do cartório se negou.
Em nota, Olavo Calheiros disse que a fazenda Capoeirão foi adquirida "por força de escritura de compra e venda celebrada entre mim e o proprietário anterior". "A legalidade dos títulos que me garantem a propriedade sobre a Capoeirão pode ser constatada através da leitura dos documentos arquivados no cartório de Murici, o que afastará qualquer dúvida sobre a legitimidade da aquisição".
(*) Especial para O GLOBO