Título: Operação Selo: diretor dos Correios é afastado
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 04/08/2007, O País, p. 16

Outros dois funcionários citados nas investigações de novas fraudes na estatal também perderam seus cargos.

BRASÍLIA. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre fraudes nos Correios fizeram a primeira vítima na cúpula da empresa. O presidente da estatal, Carlos Henrique Custódio, determinou ontem o afastamento do diretor de Operações, Roberto Samartine Dias, e de mais dois funcionários da estatal citados na Operação Selo. Quinta-feira, primeiro dia da fase ostensiva da operação, a PF apreendeu documentos e computadores nas residências de Samartine no Rio e em Brasília e foram feitas buscas no gabinete dele nos Correios.

Custódio também afastou Sérgio Dias e Luiz Carlos de Oliveira Garritano, os dois funcionários dos Correios presos quinta-feira. Entre os presos está o lobista Arthur Wascheck Neto, um dos pivôs do escândalo do mensalão em 2005. Samartine passou a ser investigado após a polícia descobrir vários contatos dele com Marco Antônio Bulhões, um dos empresários presos na Selo. Para a polícia e o MP, Bulhões é um dos principais cúmplices de Wascheck nas fraudes em licitações dos Correios.

A partir da análise dos documentos e das gravações de conversas, feitas com autorização judicial, a polícia e o MP tentarão conferir o peso dos indícios contra Samartine. Um dos cinco presos, Oliveira Garritano, confirmou boa parte das suspeitas sobre irregularidades nos processos de compra e contratação de serviços pela estatal.

O grupo, supostamente chefiado por Wascheck, é acusado de comprar informações privilegiadas e direcionar licitações. Pelo menos 20 empresas, fornecedoras de produtos e serviços aos Correios, estão sob investigação. São fornecedoras de softwares, caixetas plásticas e contêineres desmontáveis. Também estão sendo investigadas empresas da área de transporte. Para os investigadores, o esquema de fraude estava tão consolidado que algumas empresas detinham o monopólio do fornecimento de determinados produtos e serviços.

Investigadores ainda desconhecem valor da fraude

A polícia e o MP ainda não têm cálculo exato dos desvios, mas sabem que o rombo era grande. Segundo o procurador da República Bruno Acioli, os prejuízos somam milhões de reais. Custódio disse não saber se as fraudes ocorreram após o escândalo dos Correios, tornado público em maio de 2005. Ele assumiu o comando dos Correios em julho do ano passado, num acordo firmado pelo PMDB, que indicou ainda cinco diretores para a estatal, com vistas à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Custódio reclamou que até o momento não teve acesso aos documentos da operação. Segundo ele, sem as informações não é possível saber onde teriam ocorrido as fraudes. O presidente dos Correios disse que elas são importantes para a definição de abertura de sindicância interna contra os funcionários da estatal sob investigação.

Wascheck é um dos pivôs do escândalo do mensalão, o mais rumoroso do primeiro mandato de Lula. No início de 2005, ele contratou dois arapongas para gravar cenas de suborno do ex-chefe do Departamento de Compras dos Correios Maurício Marinho. Irritado com a cilada armada contra o afilhado político, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou a existência de caixa dois do PT, batizado por ele de mensalão. O procurador da República Bruno Acioly considera um absurdo que Wascheck tenha permanecido solto nos últimos anos.