Título: Petrobras fisga mais um
Autor: Novo, Aguinaldo e Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 04/08/2007, Economia, p. 33

A MÃO VISÍVEL

Empresa compra Suzano Petroquímica por R$2,7 bi e levanta temor de reestatização.

APetrobras anunciou ontem a compra da Suzano Petroquímica, por R$2,7 bilhões, e passou a ser a segunda maior companhia do setor no país, atrás apenas da Braskem, líder na América Latina. Além de mais um passo para a consolidação do pólo petroquímico do Sudeste, a operação representou a volta da Petrobras com toda a força ao setor, do qual foi obrigada a sair nos anos 90 pelo próprio governo. Empresários e analistas de mercado se mostraram preocupados com a possibilidade de o negócio representar uma reestatização indesejável, ou seja, a volta da mão visível do Estado. Em março, a Petrobras, em associação com a Braskem e o Grupo Ultra, já havia pago US$4 bilhões pelos ativos da Ipiranga, que controlava a central de matérias-primas do Rio Grande do Sul.

A indústria petroquímica gera produtos do dia-a-dia da população, de sacolas plásticas de supermercado a fraldas descartáveis.

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, negou que a compra represente uma tentativa de reestatização ou possa gerar conflitos de interesses com outras empresas privadas. A estatal é a principal fornecedora de nafta (matéria-prima para a indústria petroquímica) no país. Segundo ele, a empresa pretende atrair sócios privados para o pólo do Sudeste, até estrangeiros. Segundo o presidente da Petroquisa (braço da estatal para petroquímica), José Lima de Andrade, a transação só será concluída em cerca de dois meses (quando será feito o pagamento), e, até lá, poderá contar com um sócio privado. Esse parceiro poderia ser a Unipar, confirmou o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.

O vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem, Marcelo Lyra, destacou que, se a operação é positiva por representar o início da formação de um pólo forte no Sudeste, é preocupante se a Petrobras ficar com o controle acionário. Com a operação, a Rio Polímeros (Riopol), âncora do pólo gás-químico de Duque de Caxias, torna-se uma empresa estatal, com 66,6% do controle divididos entre a Petrobras e a BNDESPar.

-Se a Petrobras, num segundo momento, não anunciar a entrada de um grupo privado, vai significar a reestatização do setor - disse Lyra.

- A Petrobras não quer ser a empresa dominante do mercado. Mas ser sócia de empresas privadas. A operação vai alavancar mais investimentos privados - afirmou Gabrielli, durante o anúncio da compra, que foi fechada ontem à tarde em São Paulo, após quatro meses de negociação. - Atuamos num mercado cada vez mais global, que requer escala para sua expansão. Costa afirmou que "no momento adequado" vai negociar com os eventuais sócios privados a participação acionária de cada um no pólo do Sudeste ou no próprio capital da Suzano. Ele evitou, porém, responder se a estatal pretende ou não manter posição majoritária na operação.

Oferta é estendida a minoritários

A operação financeira foi costurada pelo banco ABN Amro. Dos R$2,7 bilhões, R$2,1 bilhões serão pagos diretamente aos controladores da Suzano. Os outros R$600 milhões serão usados na compra de 100% das ações ordinárias e preferenciais ainda em mãos de minoritários. A Petrobras estendeu a esses sócios o mesmo preço pago pelos papéis dos controladores - de até R$13,44 por ação ordinária (quase sem liquidez no mercado) e até R$10,76 pelas preferenciais.

Considerando o valor dos papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) da Suzano no fechamento do pregão de quinta-feira (R$5,70), o prêmio desembolsado pela estatal chegaria a 87,72%. Para a empresa e o ABN, o valor negociado leva em conta as perspectivas futuras da Suzano Petroquímica, e não apenas seu valor atual. A Suzano Petroquímica é a maior fabricante de resina de polipropileno da América Latina e vice-líder nacional em resinas termoplásticas.

- Fizemos várias projeções. A precificação de mercado é uma coisa momentânea, e para a Petrobras trata-se de uma negociação estratégica - disse o diretor de Fusões e Aquisições do ABN-Amro, Flávio Valadão.

As ações da Suzano Petroquímica tiveram volume de negociação acima do normal nas últimas semanas, e subiram enquanto o mercado caía. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai investigar a suspeita de uso de informação privilegiada. A operação precisa passar pelo crivo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que ainda não julgou o processo referente à venda da Ipiranga.

A Petrobras já detém participações expressivas no setor petroquímico. É dona de 6,8% da Braskem, 27,4% da Copesul, 34,8% da Ipiranga e 70,5% da Petroquímica Triunfo. Efetivada a compra da Suzano, terá 25% a 50% da Rio Polímeros, 24% da Petroquímica União e 20% da Petroflex.

O mercado reagiu com surpresa e considerou positiva a operação para a consolidação do pólo no Sudeste, desde que não signifique sua reestatização. Recentemente, o governo fez surgir temores de reestatização também no setor de telecomunicações, ao incentivar a união da Oi com a Brasil Telecom.

Para Luiz Otávio Broad, da Ágora Corretora, a operação é um movimento de reestatização:

- A Petrobras deveria focar seus recursos em projetos novos que movimentam a economia, geram empregos e aumentam a produção.

O analista Eduardo Roche, do Banco Modal, disse ter ficado surpreso porque há pouco tempo quem estava demonstrando interesse em adquirir a Suzano era o outro grupo forte do Sudeste, a Unipar.

- O que aconteceu com a Unipar? O mercado esperava realmente que a consolidação do pólo do Sudeste aconteceria com a fusão das empresas privadas Unipar e Suzano, mas não liderada pela Petrobras.

Pedro Galdi, do ABN Amro destacou que, como a Petrobras não consegue comprar a Braskem, está partindo para outras aquisições. Ele destacou, também, que para a indústria petroquímica o fortalecimento do pólo do Sudeste é fundamental para competir nos mercado interno e externo. Para Galdi, o pólo do Sudeste não poderia continuar dividido entre Petrobras, Unipar e Suzano.