Título: CVM investigará uso de informação privilegiada na compra da Suzano
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 04/08/2007, Economia, p. 34

A MÃO VISÍVEL: Órgão vai pedir dados a Bovespa, corretoras e investidores.

Ações da empresa acumularam alta de 14% em julho e 4,59% este mês.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vai investigar a suspeita de uso de informação privilegiada - a inside information - na compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras, anunciada ao mercado ontem. Somente em julho, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da fabricante de insumos plásticos acumularam alta de 14,02%, enquanto o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa, teve queda de 0,39%. Em apenas dois dias de negócios de agosto, os papéis da Suzano subiam 4,59%, contra 0,94% do indicador.

Outro dado que chamou atenção do mercado e da autarquia foi o aumento considerável no volume de negócios com as ações da petroquímica. Até junho, o volume médio diário girava em torno de R$2,3 milhões. Em julho, esta média quase dobrou: foi de R$3,992 milhões. Na última semana, o volume diário explodiu, de aproximados R$2 milhões na segunda-feira, para R$5 milhões na terça, R$10 milhões na quarta e R$16 milhões na quinta-feira.

- O volume tem subido muito, os preços nem tanto - avalia o superintendente de Relações com o Mercado e Intermediários da CVM, Waldir de Jesus Nobre.

Ontem, a Suzano pediu suspensão dos negócios com as suas ações às 12h15m, quando já subiam 1,57%, para divulgar o fato relevante (documento sobre a operação) às 15h08m.

O próximo passo do órgão é pedir informações à Bovespa, às corretoras e aos investidores com movimentações diferentes das usuais, sobre as operações nos dias que antecederam o anúncio - incluindo a de parentes de pessoas relacionadas à operação. Essa investigação poderá resultar em inquérito, a ser julgado pelo colegiado de diretores da CVM, ou diretamente em um termo de acusação, se houver provas suficientes para isso, explica Waldir.

Papéis da Petrobras tiveram queda de 4,27%

No primeiro caso, os diretores da CVM têm 90 dias para concluir o inquérito, obedecendo à lista de processos na Superintendência de Fiscalização Externa (SFI). Depois, os suspeitos ainda têm um mês para se defender. No termo de acusação, o caso pode levar cerca de seis meses para ser julgado, ele estima, admitindo que os prazos podem ser estendidos pela defesa.

Após a volta dos negócios com as ações da petroquímica e a oficialização da operação, os seus papéis encerraram em alta de 56,32% no dia. Já os da Petrobras acumularam queda de 4,27%, parcialmente acompanhando a queda de 3,37% do Ibovespa, que é composto em boa parte por ações da estatal. - Para a Suzano, o valor foi maravilhoso, R$13,44 por ação ordinária (ON, com direito a voto), e R$10,76 por uma ação que ontem (na quinta-feira) valia R$5,70. Considera-se uma aquisição cara - avalia o analista dos setores de petróleo e petroquímico da corretora Ágora, Luiz Otávio Broad.

Como quase todas as ações ON estão em poder dos controladores, elas não possuem cotação em bolsa. De acordo com o estatuto da Suzano Petroquímica, os donos de ações preferenciais terão direito de receber 80% do valor pago pelas ações ordinárias, portanto os mesmos R$10,76 oferecidos pelas PNs do bloco de controle, valor considerado bom por Broad.

Para o diretor da Unibanco Investshop Corretora, Álvaro Maia, os investidores da Petrobras não gostaram do aumento do foco da Petrobras no setor petroquímico, além de terem achado alto o preço pago. Para Broad, apesar de considerar cara a operação para a Petrobras, a notícia tem pouca relevância para o valor de mercado da estatal.

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