Título: Anac tem apenas 210 inspetores para fiscalizar frota de 276 aviões
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 05/08/2007, O País, p. 4

Sindicato diz que número não é suficiente para monitorar todo o setor aéreo.

BRASÍLIA. As investigações sobre a maior tragédia da aviação brasileira com o Airbus da TAM levantaram suspeitas sobre a capacidade da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de fiscalizar adequadamente o setor. Dados do Sindicato dos Aeronautas revelam que o órgão não tem inspetores (chamados checadores) em número suficiente para supervisionar o treinamento e a formação de pilotos e comissários, avaliar o trabalho das escolas de formação e ainda supervisionar as manutenções feitas nos aviões pelas oficinas das companhias. A Anac tem apenas 210 fiscais. Segundo o sindicato, esses técnicos da agência teriam que responder pela fiscalização de uma frota comercial de 276 aeronaves, que fazem revisões periódicas de acordo com o número de horas voadas e o ciclo de pousos e decolagens. Há ainda 5.700 mil pilotos, 27.800 comissários e 300 aeroclubes e escolas. Todos atuam sob o monitoramento da Anac.

Anac repassou às empresas papel de fiscalizar

A deficiência é ainda mais grave quando se leva em conta a aviação geral (helicópteros e jatinhos) - também uma obrigação da Anac - que chega a 11.201 aparelhos. Não por acaso, o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, disse que a prioridade da agência tem sido a aviação comercial. Fontes do órgão afirmam que a fiscalização desses aviões está totalmente abandonada por falta de pessoal. Mesmo assim, faltam inspetores para fiscalizar os treinamento dos pilotos e o jeito encontrado pela Anac foi credenciar profissionais das próprias companhias para cumprir a missão. - A autoridade aeronáutica repassou às empresas uma obrigação que é sua - criticou a presidente do Sindicato, Graziella Baggio. Especialistas lembram que, embora a aviação tenha passado por mudanças significativas a partir de 2000, com aviões sendo utilizados quase até o limite, o que requer manutenções mais periódicas, a forma de fiscalizar o setor não mudou e o número de inspetores permaneceu praticamente o mesmo. - Com mais técnicos, você pode fazer um maior número de amostragens, além de poder dedicar mais tempo às vistorias - afirmou o professor de transporte aéreo e dirigente do Instituto Cepta, Vladimir Silva. O número de vôos regulares saiu de 46.956 em 2004 para 62.824 em 2007. Mesmo assim, houve redução no número de aeronaves, que era de 302 naquele ano. Em vez de seis a sete horas diárias de vôo, elas passaram a fazer 14 horas. E a frota foi substituída por aviões com maior capacidade de passageiros. As deficiências no quadro de pessoal do órgão regulador vêm desde 2001. Naquele ano, um relatório da ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil) apontou, numa auditoria no antigo Departamento de Aviação Civil (DAC), que virou Anac, que o nível de inspetores estava abaixo do exigido para os padrões mundiais de segurança e recomendou a contratação de inspetores de vôo, com experiência na aviação civil. Cerca de cem profissionais, entre engenheiros, mecânicos e pilotos com mais de 10 mil horas de vôo, foram contratados por quatro anos. Mas, com a criação da agência, esse pessoal já não trabalha mais no órgão. Fontes dizem que, desde a criação da Anac, a Aeronáutica vem esvaziando o órgão.