Título: Classe média mantém distância crítica de Lula
Autor: Franco, Ilimar e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 05/08/2007, O País, p. 13
LONGE DA MÉDIA: "Reconhecemos que a questão existe. Vamos continuar disputando o apoio desse setor", diz Dulci.
Governo admite perda de confiança entre setores médios da população, afastados por mensalão e outras crises.
BRASÍLIA. Os setores da classe média que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu, com o escândalo do mensalão e outras crises, mantêm-se críticos e arredios diante da gestão petista sete meses depois do início do segundo mandato. A demora para solucionar a crise aérea, potencializada com o acidente do avião da TAM em Congonhas, afasta ainda mais essa parcela da população. A situação preocupa o Palácio do Planalto, que, mesmo não tendo intenção de lançar um pacote de medidas específicas ou fazer uma campanha publicitária focada nesse segmento da população, pretende reagir para recuperar parcela desse setor social.
Planalto avalia que falhou na comunicação
A avaliação no Planalto é que o governo fez muito para os setores médios da sociedade, mas não foi eficiente na comunicação, e que isso se deve, em grande medida, ao discurso predominante que enfatiza as ações em favor dos mais pobres.
- Reconhecemos que a questão existe. Vamos continuar disputando o apoio da classe média. Os problemas com determinados setores médios não decorrem da falta de ações e medidas, mas do fato de nosso discurso não enfatizar essas realizações. Temos de explicitar e dar mais visibilidade ao que está sendo feito - diz o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.
Esta visão é compartilhada pelo secretário de Comunicação, Franklin Martins. Para ele, a situação atual é a mesma do ano eleitoral: o governo tem melhor desempenho nas classes C, D e E, mantém-se estável na classe B, e tem avaliação desfavorável nas camadas mais altas. Mas, ao reconhecer a vulnerabilidade, os auxiliares de Lula dizem que a oposição tem dificuldade maior, pois encontra resistência na população de baixa renda, que constitui maioria.
- A classe média tem se beneficiado das ações do governo. O crescimento econômico está chegando diretamente à classe média. Temos que mostrar isso à população, reagir na disputa política no cotidiano e melhorar a percepção de suas conquistas. Essa batalha conta com o tempo favorável ao governo, já que as melhorias serão percebidas claramente pela população. Tem um setor que não percebeu a mudança. Temos que explicitar isso - resume Franklin.
A última pesquisa Ibope/CNI, de 1º de julho, mostra que os mais ricos e parcela relevante da classe média são críticos ao governo Lula. No que se refere à aprovação do presidente entre abril e junho, houve perda de dez pontos entre os que têm curso superior; de seis pontos entre quem ganha de 5 a 10 salários mínimos; e de nove pontos entre os que recebem mais de dez mínimos.
Perda no Sul do país foi mais significativa
No Sul, onde a classe média tem maior peso eleitoral relativo, a perda foi de dez pontos. A situação se repete quando a pesquisa se refere à avaliação do governo: a perda entre os que têm curso superior foi de quatro pontos; e entre quem recebe mais de dez mínimos foi de nove pontos. Esses dados, no entanto, de acordo com especialistas, não apontam a existência de um problema generalizado do governo com os setores médios da sociedade, mas com segmentos localizados.
- É um problema localizado com alguns setores de alguns lugares. Mais no Sul que no Norte/Nordeste. Mais na alta escolaridade que na média, e mais ligada aos trabalhadores do serviço público do que aos trabalhadores da iniciativa privada - diz o cientista político João Francisco, do Vox Populi.
Essa também é a avaliação do cientista político Ricardo Guedes, do Instituto Sensus, que, baseado em pesquisas regionais e municipais, avalia que a crise aérea não provocará alteração significativa na avaliação do governo e do presidente.
- A aprovação ao presidente decresce no Sul e no Sudeste, mas isso não atinge toda a classe média. A rejeição é mais localizada do que um fenômeno geral - afirma Ricardo Guedes.
Estrategistas do governo argumentam que os tucanos têm forte apoio na classe média paulista e que isso indica, por mérito da oposição, que sempre haverá resistências ao governo petista nessa parcela da população. Lembram que Geraldo Alckmin ganhou as eleições presidenciais em São Paulo.
Para reconquistar uma parcela das camadas médias, assessores defendem que o presidente procure contato direto com a população. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) diz que o diálogo direto com a classe média é o caminho a ser trilhado:
- O governo venceu pelo reconhecimento das melhorias das condições econômicas e sociais. A mídia não mostra esse avanço, e as pessoas não percebem essas conquistas. Esse é o principal desafio para reconquistar a classe média.