Título: Juro básico de um dígito
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2009, Economia, p. 12

Se o Banco Central seguir o que projeta o mercado e cortar a taxa básica de juros (Selic) em pelo menos um ponto percentual em cada uma das próximas três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) ¿ amanhã, em abril e em junho ¿ o país dará um passo sem precedentes. Pela primeira vez na história, a Selic ficará abaixo de 10%, mais precisamente em 9,75% ante os atuais 12,75%. Esse movimento está no radar dos quatro maiores bancos do país ¿ Itaú-Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica ¿ e é esperado com ansiedade pelo presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

¿Não há nada no horizonte da inflação que inviabilize a trajetória de queda dos juros¿, disse o diretor de Pesquisas e de Análises Macroeconômicas do Bradesco, Octávio de Barros. Ele não descarta, porém, a possibilidade de o BC antecipar esse movimento e reduzir a Selic em 1,5 ponto na reunião do Copom desta quarta-feira. Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Itaú, John Welch, os três cortes seguidos de um ponto cada nos juros serão importantíssimos para dar fôlego novo à economia, além aliviar as contas fiscais do governo. A perspectiva é de que a economia com juros neste ano chegue a R$ 25 bilhões e faça com que as despesas com a dívida caiam para 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na opinião do professor Mauro Miranda, do Ibmec, a crise abriu espaço inédito para o corte dos juros. ¿Mesmo com a Selic mais baixa, a inflação ficará tranquilamente no centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, ou abaixo dela¿, assinalou. O recuo da inflação, segundo o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, ficará claro nos Índices Gerais de Preços (IGPs), que medem os custos do atacado (indústria). ¿Minhas estimativas apontam para taxas em torno de 3% neste ano, com viés de baixa¿, afirmou. Nos cálculos do economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, é possível que o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) feche março com deflação próxima de 1%.

Essas estimativas são baseadas no IGP-DI de fevereiro divulgado ontem pela FGV. O indicador apontou deflação de 0,13% quando o consenso do mercado era de 0,10%. Segundo Flávio Serrano, do Banco BES Investimento, a deflação está sendo comandada pelos preços das commodities. O Índice de Preços no Atacado (IPA) Agrícola saiu de uma elevação de 2,07%, em janeiro, para baixa de 0,36% no mês passado. No caso do IPA industrial, a deflação diminuiu de 1,26% para 0,29%. (VN)