Título: Governo terá de explicar deportação de cubanos
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 07/08/2007, O País, p. 13

Oposição vai convocar ministros e chega a comparar o caso ao de Olga Benário, entregue a Hitler por Getúlio.

BRASÍLIA. A deportação, no sábado, dos pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que desertaram da delegação cubana durante o Pan, foi alvo ontem de protestos no Congresso. Em nota, o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), lamentou que o aparato de inteligência do governo Lula tenha sido usado para localizar, capturar e deportar os dois atletas como se fosse "um prolongamento da polícia política do ditador Fidel Castro".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apresentou requerimento convocando os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Defesa, Nelson Jobim, para prestar esclarecimentos na Comissão de Relações Exteriores.

- O Brasil rasgou a melhor tradição da sua democracia com essa deportação sumária dos dois boxeadores cubanos. O Brasil já abrigou até criminosos notórios, como o general Oviedo e o generalíssimo Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai. O Brasil me envergonhou. Estamos entregando dois jovens campeões cubanos à ditadura sanguinária de Fidel Castro - condenou o senador tucano.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), comparou a deportação dos atletas cubanos ao episódio ocorrido com Olga Benário Prestes, mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes, que foi executada pelo governo nazista de Adolf Hitler depois de ter sido deportada pelo governo Getúlio Vargas. De acordo com Fortes, a ação do governo brasileiro foi ilegal.

Na nota, o DEM ressalta que o partido considera que "serão de integral responsabilidade do governo Lula os constrangimentos físicos e psicológicos impostos aos atletas cubanos, bem como qualquer tipo de punição política que venham a sofrer em seu país". O partido se preparava para impetrar habeas corpus contra a "liberdade vigiada", imposta aos atletas, quando soube do embarque dos pugilistas.

Ainda que num tom mais ameno, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também manifestou preocupação com o futuro dos dois atletas cubanos. Ele chegou a ligar ontem para o secretário-executivo do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro, para cobrar explicações sobre a deportação, mas não conseguiu falar com ele.

- Fiquei extremamente preocupado quando soube que eles haviam sido detidos e que seriam encaminhados ao seu país. Gostaria de ter visto pelo menos uma entrevista livre deles. Isso precisa ser objeto de mais esclarecimento - disse Suplicy.

Ministério diz que cubanos não pediram refúgio

Segundo o Ministério da Justiça, os dois pugilistas não pediram refúgio e, portanto, o governo não tinha como impedi-los de voltar a Cuba. O ministério informou que o delegado Felício Laterça, da Delegacia de Imigração da PF no Rio, teria alertado os cubanos sobre a possibilidade de pedirem refúgio e permanecerem no Brasil. A resposta, porém, teria sido um agradecimento e a declaração de que estavam felizes de voltar a Cuba.

Fidel mandou atletas para "casa de visitas"

O bicampeão olímpico Guillermo Rigondeaux, de 26 anos, e o campeão mundial Erislandy Lara, de 24, já foram levados, por ordem do governo cubano, para a chamada "casa de visitas", em Havana. A mulher de Rigondeaux, Farah Colina, e seus dois filhos, além da mulher de Lara, também estão na casa desde domingo. A televisão estatal cubana informou que ambos chegaram a Havana na madrugada de domingo e foram acomodados provisoriamente na casa, como havia anunciado o líder Fidel Castro.

Após acusar os atletas de traição por dinheiro, Fidel mudou o tom e, domingo, em artigo no jornal oficial "Juventude Rebelde", de Havana, afirmou que eles não seriam presos, mas apenas submetidos a "tarefas em favor do esporte, de acordo com seus conhecimentos e experiência".

Os boxeadores foram enviados para Cuba pela Polícia Federal brasileira no sábado, após passarem menos de dois dias sob liberdade vigiada enquanto aguardavam a regularização de seus documentos. Sumidos desde 22 de julho, os cubanos abandonaram a Vila Pan-Americana pouco antes de sua estréia no Pan; e, na noite da última quinta-feira, foram presos, sem documentos, em Araruama (RJ).

COLABOROU: Demétrio Weber, com agências internacionais