Título: Apoio a Bachelet cai e gera crise no governo
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 07/08/2007, O Mundo, p. 31

Após vitória histórica, 1ª mulher a governar o Chile enfrenta problemas graves e pode ter de reformar Gabinete de novo

Janaína Figueiredo

BUENOS AIRES. Quando a socialista Michelle Bachelet assumiu a Presidência do Chile, em março de 2006, a grande maioria dos chilenos esperava o início de uma nova era. Hoje, apenas 17 meses depois da histórica posse de Bachelet, a primeira mulher a comandar o Poder Executivo chileno, o clima é outro. O governo Bachelet está mergulhado numa crise interna que, segundo a imprensa local, poderia obrigar a presidente a realizar uma quarta reforma de Gabinete nas próximas semanas.

A lista de problemas é extensa: falhas no novo sistema de transportes de Santiago, inaugurado em fevereiro; greves setoriais, com destaque para uma paralisação de 37 dias dos 18 mil trabalhadores que prestam serviços à Corporação do Cobre (Codelco) e a falta de apoio de setores da própria Concertação (aliança entre socialistas e democratas-cristãos que governa o país desde 1990) no Congresso, entre outros.

Se em seu primeiro ano de gestão Bachelet conseguiu preservar a imagem, nos últimos meses a situação mudou drasticamente. Segundo pesquisa realizada pela empresa de consultoria Adimark, atualmente 42,8% dos chilenos estão insatisfeitos com Bachelet, contra apenas 41,5% que a aprovam. É o percentual de aprovação de um presidente mais baixo da história da Concertação chilena.

Para analistas, a presidente do Chile não tem mais tempo para inverter a péssima imagem de seu governo. Na segunda metade do mandato, a agenda política do país será dominada por eleições regionais e pela campanha presidencial de 2009.

- A expectativa de todos era enorme e isso explica grande parte do problema, porque o governo de Bachelet terminou sendo igual aos anteriores. Existe uma grande desilusão no país - afirmou Ricardo Israel, diretor do Centro Internacional para a Qualidade da Democracia, por telefone, de Santiago.

Segundo ele, "a sorte da Concertação é que a oposição chilena é incapaz de capitalizar esta crise, porque continua muito vinculada ao governo de (Augusto) Pinochet".

Descompasso entre ministros prejudicaria governo

Para Guillermo Hollzman, professor da Universidade do Chile, as principais falências do governo Bachelet são a falta de rumo, de coordenação entre seus ministros e de capacidade de negociação no Congresso.

- Deputados e senadores da própria Concertação não apoiaram o governo em votações-chave - disse o analista.

O conflito recente entre os ministros do Interior, Belisario Velasco, e da Fazenda, Andrés Velasco, é sinal da crise. Ele foi desencadeado pela greve dos trabalhadores contratados pela Codelco, uma das empresas mais importantes do país. O ministro do Interior defendeu a demanda dos trabalhadores. Já o ministro da Fazenda se opôs à proposta dos trabalhadores.

Já ontem, a Central Única de Trabalhadores (CUT), principal central sindical do Chile, anunciou uma greve geral para o próximo dia 29 de agosto.

- Precisamos de uma orquestra mais afinada - disse o presidente do Partido pela Democracia (PPD), o ex-presidente Ricardo Lagos (2000-2006), um dos mais cotados para disputar a Presidência do país em 2009.