Título: Diretora da Anac terá sigilo quebrado
Autor: Jungblut, Cristiane e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 08/08/2007, O País, p. 8

Medida da CPI do Apagão Aéreo também vai atingir dono da Taed.

BRASÍLIA. A CPI do Apagão Aéreo na Câmara deverá aprovar hoje a quebra do sigilo telefônico da diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, acusada pelo ex-presidente da Infraero brigadeiro José Carlos Pereira de fazer lobby para beneficiar amigos com a transferência do setor de cargas de Congonhas e Viracopos para o Aeroporto de Ribeirão Preto. A mudança - um negócio de R$400 milhões por ano, segundo o brigadeiro - beneficiaria o empresário Carlos Ernesto Campos, dono da empresa Taed (Terminais Aduaneiros do Brasil), que ganhou licitação para a construção do terminal de cargas em Ribeirão Preto.

Além da quebra de sigilo telefônico, que se estende ao empresário Carlos Ernesto, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) apresentou requerimentos para reconvocar Denise e o brigadeiro José Carlos. Já o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) solicitou que a CPI faça acareação entre o brigadeiro e a diretora da Anac. O pedido, entretanto, só será votado depois que os dois voltarem a depor. Junto com as providências da CPI, Fruet encaminhou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, pedido de abertura de processo disciplinar contra toda a diretoria da Anac, incluindo o presidente, Milton Zuanazzi, por ineficiência, omissão na fiscalização das empresas aéreas, falta de capacitação técnica e relação indevida com as companhias, com o uso abusivo de passagens não pagas .

Brigadeiro já havia falado sobre Denise com a CPI

Sobre a denúncia envolvendo Denise, Fruet disse que a quebra do sigilo é fundamental.

- Vai mostrar se a denúncia, extremamente grave, é leviana ou se faz sentido.

A denúncia de que Denise estaria manobrando para transferir o serviço de cargas de Congonhas e Viracopos para Ribeirão Preto era conhecida de alguns membros da CPI. Mas, segundo a deputada Luciana Genro (PSOL-RS), o brigadeiro pediu sigilo até que conseguisse concluir a investigação. Ele deixou claro a ela que temia a montagem de um "esquema" para tirar o setor de cargas da Infraero para Ribeirão Preto. Luciana contou que, há cerca de um mês, após reunião na Anac em que membros da CPI e da Infraero participaram, Pereira pediu que ela ficasse atenta, porque o caso poderia estourar. Nessa reunião, Pereira e Denise bateram boca de forma acalorada, depois que ele acusou a Anac de falhar na fiscalização, e Denise saiu em defesa das companhias aéreas.

Preocupada, a deputada solicitou reunião com o brigadeiro para detalhar o assunto. Ele disse que em duas semanas deveria concluir a investigação e pediu sigilo. Mas como a reunão aconteceu justamente na véspera do acidente da TAM em São Paulo, Pereira não teria tido tempo de voltar ao assunto.