Título: Entidade defende investigação sobre deportação
Autor: Martins, Marília e Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 08/08/2007, O País, p. 9

Human Rights Watch quer apuração; já Tarso Genro diz que cubanos "praticamente imploraram" para voltar a Cuba.

NOVA YORK E BRASÍLIA. A organização internacional Human Rights Watch, de defesa de direitos humanos, que acompanha os eventos que cercaram a deportação dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, pediu uma investigação profunda, feita por uma comissão independente, com o apoio do Congresso e do Judiciário brasileiros, para esclarecer por que os atletas voltaram a Cuba depois de desertar da delegação de seu país durante o Pan.

- Temos só a versão oficial da Polícia Federal brasileira. Precisamos ter certeza de que os atletas mudaram de idéia e decidiram voltar. É preciso que uma investigação conduzida de forma independente pelo Congresso e pelo Judiciário brasileiros apure as circunstâncias em que a mudança aconteceu - disse o diretor-executivo da Divisão para as Américas da Human Rights Watch, Jose Miguel Vivanco.

O ativista lembrou que esse caso é incomum pelo fato de que a deserção dos atletas não ter sido seguida pelo pedido de asilo. Ele solicitou que o governo brasileiro envie pedido ao regime cubano de tratamento humanitário para os dois atletas.

Em Brasília, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reagiu às críticas da oposição à deportação e disse que os atletas voltaram a Cuba por livre e espontânea vontade. De acordo com o ministro, o governo ofereceu refúgio político, mas os dois preferiram rejeitar a oferta. Para Tarso, os atletas estavam com saudades da família e quiseram retornar a Cuba. O ministro disse que os dois não têm pendências de ordem política, que inviabilizem a volta para casa.

- Eles deram depoimentos e praticamente imploraram para voltar. Tudo foi feito dentro da legalidade - afirmou.

Tarso determina que PF divulgue depoimentos

Irritado com o tom dos ataques à deportação, Tarso disse que a oposição fez críticas com base em informações erradas. Segundo ele, os cubanos foram presos pela Polícia Militar e não pela Polícia Federal. A PM está subordinada ao governo do Rio de Janeiro. A PF é vinculada ao Ministério da Justiça. Depois de capturados pela PM, os cubanos foram entregues à PF.

Por ordem de Tarso, foram divulgados os depoimentos dos cubanos à PF. "Foi oferecido ao depoente se desejava solicitar refúgio, o qual foi negado, pois o depoente diz amar o seu país, seus familiares, não ter problemas políticos ou religiosos", disse Ortiz, segundo transcrição do delegado da PF Felício Aterça.

Na segunda-feira, senadores da oposição criticaram a deportação. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), classificou a ação como desumana. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) comparou a medida à deportação de Olga Benário para a Alemanha nazista, praticada pela ditadura de Getúlio Vargas. Raul Jungmann (PPS-PE) e Fernando Gabeira (PV-RJ) anunciaram que vão pedir explicações à Polícia Federal e ao Ministério das Relações Exteriores.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que vai cobrar do embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Nuñez Mosquera, garantias da integridade física dos pugilistas.

- Assim como cobramos tratamento digno no caso dos cubanos presos nos Estados Unidos, vamos cobrar tratamento em igualdade com esse princípio aos atletas deportados para Cuba - disse o presidente da entidade, Cezar Britto.