Título: PSDB e DEM entram com nova representação contra o senador
Autor: Franco, Bernardo Mello e Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 08/08/2007, O País, p. 12

Oposicionistas querem apurar denúncias de compra de rádios em AL.

BRASÍLIA. Os dois principais partidos de oposição, PSDB e DEM, apresentaram ontem nova representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para apurar, desta vez, denúncias publicadas pela revista "Veja", que indicam que o senador seria sócio oculto de duas rádios em Alagoas, pelas quais teria desembolsado R$1,3 milhão em dinheiro vivo. Também ontem a Mesa Diretora do Senado decidiu, por cinco votos a dois, encaminhar ao Conselho de Ética a segunda representação do PSOL contra Renan, que pede a investigação de suposta interferência dele junto à Receita Federal e ao INSS em favor da Schincariol, que comprou do irmão do senador, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), por R$23 milhões, uma empresa avaliada em R$10 milhões.

Apenas os senadores Tião Viana (PT-AC) e Papaléo Paes (PSDB-AP) votaram contra o encaminhamento desta representação ao Conselho.

- Tanto eu como Papaléo achamos que a denúncia deveria ser encaminhada à Câmara, porque estava mais relacionada ao deputado Olavo Calheiros. Já na apreciação da representação sobre as novas denúncias publicadas na "Veja", vou votar a favor - adiantou Tião Viana, vice-presidente do Senado que presidiu a reunião da Mesa.

No plenário, antes de deflagrar o boicote às votações, a oposição prometia apreciar as quatro medidas provisórias que estavam trancando a pauta, para que pudesse ser aprovada, depois, a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.

- Depois disso, não se vota mais nada. Estamos seguindo a sugestão do DEM, que teve o apoio unânime da bancada do PSDB - confirmou o líder tucano, Arthur Virgílio (AM).

- O presidente Renan já devia ter se afastado do comando da Casa. Como não aceita a sugestão, a alternativa será negar quórum às sessões presididas por ele - disse o líder do DEM, Agripino Maia (RN).

Embora a iniciativa de apresentar nova representação contra Renan tenha sido do DEM, o assunto dividiu a bancada do partido. Em reunião fechada, vários senadores manifestaram contrariedade com o fato de o partido estar seguindo os passos do PSOL. Entre os descontentes com a ação do partido estariam César Borges (BA), Jonas Pinheiro (MT) e Edison Lobão (MA). Acabou prevalecendo, porém, a proposta defendida pelo líder da bancada. Já entre os tucanos, a proposta foi aprovada por unanimidade.

Em reunião hoje com o trio de relatores do processo contra Renan, formado por Renato Casagrande (PSB-ES), Almeida Lima (PMDB-SE) e Marisa Serrano (PSDB-MS), o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), deverá discutir o encaminhamento que dará às novas representações contra Renan.

- Defendo que sejam nomeados novos relatores, porque se as novas investigações forem incorporadas ao primeiro processo, só conseguiremos concluir nossos trabalhos depois de outubro - advertiu Casagrande.

O senador capixaba deverá propor hoje uma visita ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que determinou a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal para investigar Renan. Aliados do presidente da Casa apostam que a investigação judicial poderá favorecer Renan e paralisar o processo no Conselho de Ética, especialmente se a perícia que a Polícia Federal está fazendo nos documentos de defesa de Renan não for conclusiva. Eles devem sugerir que o Conselho aguarde o resultado da investigação conduzida pelo Judiciário, que pode se arrastar por anos.

- Isso não tem o menor cabimento - reagiu o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).