Título: Itaú passa à frente e lucra R$ 4,016 bi
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 08/08/2007, Economia, p. 23

Adivulgação ontem do lucro líquido do Itaú no primeiro semestre, de R$4,016 bilhões, apenas R$9 milhões acima do resultado divulgado pelo Bradesco na segunda-feira - R$4,007 bilhões - para o mesmo período acirra ainda mais a disputa entre os dois gigantes do varejo bancário. O número desbancou a posição do Bradesco no ranking dos maiores lucros líquidos do setor entre as instituições financeiras privadas e marca um recorde histórico para o setor no país. O resultado inclui itens extraordinários, como a venda de parte da empresa de informações de crédito Serasa (R$560 milhões) e da antiga sede do BankBoston em São Paulo (R$75 milhões).

Com isso, o lucro líquido do Itaú no segundo trimestre do ano foi de R$2,115 bilhões, o que corresponde a um aumento de 41,2% ante o mesmo período do ano passado - e de 35,8% na relação entre os semestres de 2007 e 2006. Entre os itens que impulsionaram esse crescimento esteve a carteira de crédito, que apontou um crescimento de 41,8% no período, para a casa dos R$95,548 bilhões. Já o Bradesco teve um ganho inferior, de 23,4% nesse item, somando hoje uma carteira de R$101,617 bilhões. São essas diferenças que vão determinar quem será o líder de mercado entres os bancos privados no país, apontam analistas do segmento.

Para amanhã, é aguardada a divulgação do resultado do Unibanco e, na próxima terça-feira, dia 14, o do Banco do Brasil (BB). O Unibanco tinha uma carteira de crédito estimada em R$47 bilhões até o primeiro trimestre, enquanto o BB ostentava um portfólio de R$140,4 bilhões no período, compara o analista do setor bancário da corretora Ágora, Aloisio Villeth Lemos. O indicador, junto com o de ativo total e de patrimônio líquido, está entre os mais relevantes do segmento.

Em ambos, o Bradesco também ainda é líder. No primeiro caso, entre as instituições privadas, ele tem R$290 bilhões, superando os R$255 bilhões atuais do Itaú. Contando-se os bancos estatais, o Bradesco só perde para os R$321 bilhões que o BB tinha até março. Já em patrimônio líquido, os R$27,514 bilhões do Bradesco superam até mesmo o BB, com R$21,638 bilhões até o primeiro trimestre, e o Itaú, por pouca diferença, com R$26,546 bilhões já atualizados.

Ressalva sobre inadimplência foi mal recebida no mercado

Incluindo avais e fianças, a carteira saltou 40,2%, de R$74,783 bilhões em junho de 2006, quando o banco ainda não havia comprado operações do BankBoston, para R$104,821 bilhões ao fim do primeiro semestre deste ano. Por cautela, segundo o diretor de controladoria do Itaú, Silvio de Carvalho, no segundo trimestre, o banco constituiu provisão de R$400 milhões acima do mínimo requerido para créditos de liquidação duvidosa, "de forma a permitir a absorção de eventuais aumentos de inadimplência ocasionados por reversão do ciclo econômico em situações de estresse".

- Não estamos vendo nenhum cenário negativo grande. Nossas operações (de crédito) estão normais, mas preferimos, numa medida cautelosa, constituir essa provisão em caso de algum momento de estresse - disse Carvalho, ao ser indagado sobre eventual contágio do Brasil das turbulências no mercado de crédito dos EUA.

Apesar do esclarecimento, a frase foi mal recebida no mercado, explica Lemos, da Ágora, que considera muito distante a crise das hipotecas nos EUA da economia brasileira. Por causa disso, segundo ele, as ações preferenciais do banco caíram 2,11% ontem. Se a questão é a concorrência, um dado positivo a favor do Itaú é a expectativa de aumento em R$1 bilhão nos ganhos não recorrentes no terceiro trimestre, com a venda da Redecard, na qual o Bradesco não tinha participação.

O desempenho da carteira de crédito foi puxado por financiamentos de veículos, que cresceram 58,6% em 12 meses, e por crédito para micro, pequenas e médias empresas, que avançou 59,7%. Carvalho informou que o banco mantém estimativa de expansão da carteira total de crédito entre 20% e 25% este ano na comparação com 2006. Para a analista Mônica Araújo, da corretora Ativa, o que vai fazer a diferença é a venda de produtos diferentes dos convencionais, como seguros e previdência.

(*) Com agências internacionais e Bloomberg News