Título: Fidel pune atletas deportados pelo Brasil
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Fonte: O Globo, 09/08/2007, O País, p. 11

"O atleta que abandona sua delegação é como um soldado que abandona seus companheiros em meio ao combate"

Os pugilistas Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que abandonaram a seleção cubana antes mesmo de participarem dos Jogos Pan-Americanos no Rio, e foram deportados para seu país sábado, não mais integram a equipe, determinou o líder cubano Fidel Castro em artigo publicado no jornal "Granma".

Na maior parte do artigo, Fidel comenta a deserção, a prisão e o comportamento dos boxeadores, que deixaram a Vila do Pan-Americano em 22 de julho, foram presos quinta-feira passada pela Polícia Militar, em Araruama, levados para a Polícia Federal, e deportados sábado. A deportação dos atletas provocou reação de políticos e diversas entidades, que criticaram a ação da Polícia Federal e do governo Lula.

Para Fidel, maior responsabilidade é de Lara

Reportagens da agência internacional de notícias EFE sobre a prisão dos pugilistas, uma das quais cita a entrevista que as prostitutas encontradas com eles deram ao GLOBO, quarta-feira passada, foram reproduzidas no artigo de Fidel. O líder cubano diz que "são detalhes desagradáveis", e parece ironizar ao acrescentar que imagina "que os próprios pugilistas tenham informado sobre isso aos parentes adultos mais próximos".

Para Fidel, a maior responsabilidade pela deserção é de Erislandy Lara: "Era o capitão da equipe de boxe, que apesar disso não cumpre as normas e vai parar diretamente nas mãos dos mercenários".

O líder cubano usa as entrevistas dos dois atletas à imprensa cubana para justificar sua desconfiança no arrependimento deles. Fidel conta que um jornalista do Granma, Miguel Hernández, esperou os pugilistas no aeroporto e "ficou decepcionado quando tentou escrever um artigo convincente sobre a sinceridade". Também afirma que a entrevista da repórter de televisão Julita Osendi teve o mesmo resultado. Informou que pediu a transcrição da entrevista para analisar perguntas e respostas. "Não era suficiente a imagem".

Quase em seu final , o artigo deixa claro que os dois atletas estão fora da equipe cubana: "Chegaram ao ponto em que deixarão de fazer parte da delegação cubana nesse esporte". Fidel afirma que "o atleta que abandona sua delegação é como um soldado que abandona seus companheiros em meio do combate". Ele diz ainda que "Cuba possui muitos bons esportistas, porém não os roubou a ninguém". Diz que "muitos países pobres não têm problemas com o profissionalismo, mas neles também numerosas pessoas morrem antecipadamente ou sofrem doenças que os invalidam por falta de exercícios".

Líder cubano diz que pode oferecer emprego a lutadores

Em tom de discurso em defesa do regime cubano, Fidel escreve sobre o destino de Rigondeaux e Lara: "A Revolução cumpriu sua palavra. Prometeu oferecer aos atletas um trato humano, reuni-los imediatamente com seus parentes, facilitar-lhes o acesso à imprensa, se o desejarem, e oferecer-lhes um emprego de acordo com seus conhecimentos. Preocupamo-nos igualmente com sua saúde, exatamente igual como o fazemos com todos os cidadãos".

O líder cubano informa que, no entanto, os boxeadores desejam ir embora juntamente com a família, mas não diz para onde. E termina afirmando que "o esporte sadio é incompatível com o consumismo e o esbanjamento que são a base da atual e irreversível crise econômica e social do mundo globalizado"

Para evitar deserções, Fidel ameaça ainda não enviar os demais atletas do país ao Campeonato Mundial de Boxe, em outubro, em Chicago, um dos três eventos classificatórios para os Jogos Olímpicos de Pequim, ano que vem. "Imaginem os tubarões da máfia procurando carne fresca", diz referindo-se a empresários que tentam cooptar pugilistas em troca de contratos milionários.

"Cuba não está ansiosa em fazer entregas em domicílio"

De acordo com o líder cubano, "as autoridades esportivas examinam todas as variantes possíveis, incluindo mudar a lista de boxeadores ou não enviar delegação nenhuma (a Chicago), apesar dos castigos que nos imponham. Estudam igualmente estratégias e táticas a seguir". Fidel diz que Cuba não está ansiosa em fazer "entregas em domicílio"e que não vai sacrificar a honra ou idéias por medalhas de ouro olímpicas. Apesar das recentes deserções, ele afirma acreditar que vão prevalecer "por cima de tudo a moral e o patriotismo de seus atletas".