Título: Versões contraditórias para explicar deserção
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/08/2007, O País, p. 12

Em depoimento à PF, atletas alegavam ter sido dopados e desistido por excesso de peso.

BRASÍLIA. O pugilista cubano Guillermo Rigondeaux tem apresentado versões contraditórias sobre sua fuga durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Numa entrevista concedida ontem à agência Reuters, em Havana, Rigondeaux disse que abandonou os jogos porque seria desclassificado por excesso de peso. Cinco dias antes, em depoimento à Polícia Federal, no Rio, disse que deixou a Vila do Pan numa sucessão de acasos, a partir de um encontro com dois conhecidos identificados com Michel e Alex.

Guillermo Rigondeaux e o também pugilista Erislandy Lara Zantaya se desligaram da delegação cubana em 20 de julho. Os dois foram deportados para Cuba no último sábado, um dia depois de serem detidos pela Polícia Militar em Araruama (RJ). Em depoimento ao delegado Felício Laterça, Rigondeaux disse que deixou a Vila do Pan na tarde de 20 de julho com o colega Zantaya apenas para comprar um videogame barato, mas se envolveu numa sucessão de fatos inesperados e não conseguiu retornar ao alojamento. Chegou a alegar que tinha sido dopado.

À polícia, eles disseram ainda que, logo na saída da Vila, entraram num táxi em que estavam dois conhecidos, Michel e Alex. "Alex se identificou como cubano e disse para ele que sabia onde vendia videogame barato", relatou o pugilista. Alex seria um jornalista. Michel era conhecido por levar pugilistas da Venezuela para a Alemanha. Rigondeaux disse ainda que teve uma tonteira depois de tomar uma bebida energética oferecida por Alex durante o passeio de táxi pela cidade. A partir daí, os quatro beberam até tarde num bar, dormiram num apartamento de Michel e, em seguida, foram para uma pousada em Araruama, na Região dos Lagos.

Segundo o depoimento à PF, um dos agentes do serviço de inteligência de Cuba, identificado como Luis Mariano, telefonou para Lara Zarantaya. Naquele instante os atletas cubanos já eram considerados desertores pela delegação cubana. Num gesto intempestivo, Michel tomou e destruiu o celular de Zarantaya. Duas semanas depois da fuga, Michel e Alex desapareceram de Araruama com as credenciais dos atletas e deixaram a conta de R$2,2 mil para que fossem pagas por Zarantaya e Rigondeaux, pela versão dada à polícia.

Atletas dizem que não pediram refúgio ao Brasil

A partir daí, os dois pugilistas dizem que teriam se apresentado à PM e, em seguida, sido levados para a PF. Nos depoimentos consta ainda que Rigondeaux e Zarantaya não pediram refúgio político ao governo brasileiro. Eles disseram, segundo cópia dos interrogatórios, que queriam voltar para Cuba. Mas, quatro dias depois, já em Havana, Rigondeaux mudou a versão do drama narrado à polícia. "Saímos da Vila para comprar com os empresários (Alex e Michel) e nos complicamos. Começamos a beber, a comer e passamos do peso", contou Rigondeaux.

A partir daí, os dois atletas teriam desistido de participar do restante dos jogos porque achavam que, antes disso, seriam desclassificados das competições por excesso de peso. Em depoimento ao delegado Felício Laterça, Lara Zarantaya repetiu a versão e usou praticamente as mesmas palavras de Rigondeaux para descrever as cenas que teriam vivido depois de ultrapassar os portões da Vila do Pan.