Título: Extradição de colombiano dependerá de acordo
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 09/08/2007, O País, p. 16

Brasil não autoriza envio de criminosos como o narcotraficante Abadia para países que têm pena de morte.

SÃO PAULO e BRASILIA. A extradição do traficante colombiano Juan Carlos Ramires Abadia, preso anteontem em São Paulo, dependerá de uma negociação diplomática entre Brasil e Estados Unidos, principalmente porque a Constituição brasileira não autoriza o envio de criminosos, mesmo estrangeiros, a países onde se aplica a pena de morte. Em 38 dos 50 estados americanos, há pena de morte, inclusive em Nova York, Colorado e Washington, onde Abadia responde por vários crimes.

-Mandar o traficante para os Estados Unidos vai depender de um acordo, já que o Brasil não concede a extradição e brasileiros ou estrangeiros para países que aplicam a pena de morte ¿ explicou o professor titular de Direito Internacional da USP, Paulo Casella, para quem Ramírez Abadia pode ser levado à morte em territórios americano por causa de seu envolvimento em 15 homicídios naquele país.

O ministro Ricardo Lewandowski do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou ontem à noite a prisão preventiva de Abadia. O governo americano tem 60 dias para formalizar o pedido de extradição. Abadia era procurado desde 2002, quando deixou a prisão na Colômbia, e morava há oito meses num condomínio de luxo em Barueri.

Entre 1990 e 2004, segundo informações do departamento de segurança americano, o traficante ¿exportou¿ cerca de US$ 10 bilhões em cocaína para os Estados Unidos. O colombiano acumulou nos últimos 20 anos patrimônio de uS$ 1,8 bilhão (R$3,4 bilhões). No Brasil, comandava 16 empresas de fachada para lavar dinheiro do narcotráfico. O governo colombiano já disse concordar com a extradição de Ramírez Abadia diretamente para os Estados Unidos.

À PF, traficante disse que mudaria para o Uruguai

A extradição do traficante preso numa casa avaliada em R$ 2 milhões poderá, inclusive, interferir no pagamento da recompensa de US$ 5 milhões oferecida pelos Estados Unidos a quem tivesse pista sobre o paradeiro de Abadia.

-Se o Brasil disser que não vai mandar, eles (os Estados Unidos) podem resolver não pagar ¿ diz Casella.

Por causa da advertência do Brasil de não extraditar criminosos a países onde se aplica pena de morte, o procurador-geral da Colômbia, Mario Iguarán, advertiu que é preciso rever o assunto, informou a agência Ansa.

-É preciso olhar outros instrumentos, também de caráter internacional, de assistência judicial internacional, de cooperação internacional para combater o crime organizado, que nos permita te-lo ao menos na Colômbia e depois nos Estados Unidos ¿ disse Iguarán.

A Policia Federal continuou ontem à procura de quatro integrantes da quadrilha de Ramírez Abadia. Em seu depoimento à Policia Federal, obtido pelo ¿Jornal Nacional¿, o traficante disse que se mudaria para o Uruguai na semana que vem para movimentar contas bancarias sem risco de ser preso.

O colombiano disse que chegou três anos atrás ao Brasil a bordo de um navio. Na ocasião, desembarcou no litoral cearense carregando uma mala com US$ 4 milhões. O traficante admitiu que tinhas sociedade com traficantes mexicanos e que veio para o Brasil fugindo da Justiça colombiana.