Título: Negócios suspeitos
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/08/2007, Economia, p. 27

Empresa uruguaia e operador da bolsa que compraram ações da Suzano são investigados.

Um operador do mercado financeiro e uma empresa oficialmente sediada no Uruguai são os investidores que estão sendo investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suspeita de uso de informação privilegiada (inside information) a respeito da compra da Suzano Petroquímica pela Petrobras na última sexta-feira, 3 de agosto. Antonio Carlos Reissmann atua por uma empresa de agentes autônomos e faz a gestão de suas carteiras de clientes na sede da corretora do Banco Fator, no Rio. Já a empresa, chamada Vailly S.A., tem participação em pelo menos três empresas de capital aberto no país. Tanto a empresa quanto Reissmann tiveram o lucro obtido com a venda de ações da Suzano - cerca de R$1,5 milhão, no total - bloqueado, na última terça-feira, por decisão da juíza da 23ª Vara Federal do Rio, Maria Amélia Almeida Senos de Carvalho, a pedido da CVM e do Ministério Público Federal.

O processo corre em segredo de Justiça. Apesar dessa restrição, as informações foram obtidas pelo GLOBO na madrugada de ontem no site da Justiça Federal. Ontem pela manhã, as informações sobre o processo já não estavam mais disponíveis. A CVM não divulgou a identidade nem quanto cada investidor suspeito teria investido, mas, pelo expressivo aumento do volume financeiro com as ações da Suzano na véspera - de uma média diária de R$2,3 milhões em junho para R$16 milhões no dia 2, véspera do anúncio -, é provável que haja mais investidores envolvidos.

A Vailly está presente no Brasil desde os anos 1990, segundo fontes do setor. A companhia já foi acionista da TIM e tem hoje 4,11% das ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Amazônia Celular, que acabou de ser comprada pela Vivo. Além disso, é dona de 1,21% dos papéis preferenciais da CTEEP (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista) e de 3,53% da Bardella, indústria do setor mecânico. Nenhum representante da Vailly foi localizado ontem.

TCU também vai averiguar operação

Já Reissmann atendeu O GLOBO, mas preferiu não comentar o caso. O Fator informou que o operador é apenas um cliente que usa a infra-estrutura da corretora. Segundo o banco, ele seria gestor de recursos de uma empresa de agentes autônomos autorizada pela CVM, a TopTrade, cujos clientes não são os mesmos do Fator. A TopTrade foi criada com o fim da corretora carioca Exata, em 2001, da qual Reissmann era diretor.

O Fator informou que o quadro de operadores do banco não se mistura aos da TopTrade, que operam em mesas diferentes, para clientes próprios, e podem atuar em outras corretoras. O site da TopTrade, no entanto, confirma que "todas as operações realizadas por meio do site TopTrade são executadas pela Fator S.A. Corretora de Valores". Reissmann foi procurado pelo telefone antigo da Exata, hoje pertencente à Fator, e diretamente pelo nome.

Reissmann foi alvo de outros inquéritos na CVM, entre eles um por atuação irregular de agentes autônomos em 1998, no qual foi condenado a apenas uma advertência. E é citado em um processo administrativo sancionador de 2005, destinado a "apurar a eventual ocorrência de irregularidades em negócios realizados nos mercados à vista e de opções na BVRJ (antiga Bolsa de Valores do Rio de Janeiro) e na Bovespa nos anos de 1999 a 2001, pela Fundação de Assistência dos Empregados da CEB (Companhia Energética de Brasília)".

O advogado José Roberto Teixeira, que representou Reissmann nesse caso e em outros, disse que seu cliente não foi considerado culpado - o resultado ainda não foi publicado. Segundo ele, processos na CVM são comuns para quem atua no mercado financeiro, mas raramente resultam em condenação. Ele negou ter sido contratado para o caso da Suzano.

Segundo a presidente da CVM, Maria Helena Santana, os envolvidos serão ouvidos e podem surgir novos nomes e empresas durante a investigação. Ela prefere não fazer previsões de data para conclusão do processo. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirmou ontem em nota que apóia as investigações da CVM, para que o órgão possa "punir de forma exemplar quem tiver cometido qualquer irregularidade".

Se confirmada a prática de insider trading, os processados podem ser condenados de um a cinco anos de prisão e pagar multa até três vezes superior ao que foi lucrado com a a operação irregular. Segundo o advogado tributarista Marcelo Meyer-Kozlowski, do escritório Kozlowski Advogados Associados, será a primeira vez que uma empresa estrangeira está envolvida em um caso desse tipo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu ontem que também vai investigar a compra da Suzano. Segundo o ministro Augusto Nardes, o alto valor envolvido justifica a atuação do TCU, que visa a "proteger o Erário de um dano eventual".

COLABORARAM Bruno Rosa e Ramona Ordoñez

BRASKEM REVERÁ INVESTIMENTOS SE PETROBRAS CONTROLAR PÓLO, na página 28