Título: Tristes números
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O Globo, p. 2

A expressão "consciência sanitária" foi cunhada na Itália pelo senador Giovanni Berlinguer (irmão de Enrico, o velho líder do PCI). Designa o grau de informação e consciência de uma sociedade sobre as questões gerais de saúde - dos cuidados individuais para conservá-la aos direitos e às políticas públicas. Saúde é o tesouro de cada um. A campanha de prevenção do alcoolismo que será lançada hoje no Rio faz parte do esforço para aumentar a consciência sanitária, diz o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

A campanha, apoiada por uma constelação de personalidades nacionais, é uma das medidas da Política Nacional sobre Álcool, lançada pelo presidente Lula em maio. Outras virão, diz o ministro, buscando prevenir e conter o elevadíssimo consumo de álcool. Bebe-se muito no Brasil, onde são grande e tristes os números sobre o alcoolismo.

- A bebida está relacionada diretamente a muitas doenças, mas também aos acidentes de trânsito, à violência doméstica, aos homicídios por causas fúteis e aos acidentes de trabalho. Uma política de álcool envolve restrições ao acesso, tratamento de dependentes e ações educativas, como as que estamos lançando. Quase todos os países têm a sua - diz Temporão.

Alguns números. Segundo o IPEA, o custo anual dos acidentes de carro no país é de R$5,3 bilhões; 50% dos motoristas e pedestres envolvidos, dizem estudos diversos, costumam estar embriagados. O custo médio de uma pessoa internada por acidente de carro é de R$38 a R$56,6 mil, diz o Ipea. Na Rede Sarah, a maioria absoluta dos pacientes busca recuperar-se de lesões graves ou de incapacidade decorrente de acidentes de trânsito, diz o cirurgião-chefe, Campos da Paz.

Os jovens estão começando a beber cada vez mais cedo. Festas de adolescentes são movidas a som e álcool (que, sendo legal, não se procura esconder, como a droga). Bebem por curiosidade ou para desinibir. Para o vício, é um passo. Nas escolas, segundo a pesquisa Senad/Unesco, 30% dos estudantes de 10 a 12 anos admitem beber com alguma freqüência. Na faixa de 13 a 15, e de 16 a 18 anos, os índices pulam para 52% e 66%, respectivamente. Na faixa dos 19 anos, até 70% admitem beber.

Entre os adultos, na mesma pesquisa, os consumidores de bebidas alcoólicas são 44%, sendo que 50% deles só o fazem nos finais de semana; entre eles, 48% fazem uso de cerveja. O consumo é maior na faixa dos 18 aos 24 anos. Entre a pesquisa de 2002 e a de 2005, subiu de 11,2% para 12,3% o total dos dependentes de álcool: 19,5% de homens, 6,9% de mulheres. Neste ponto, o vício já compromete, além da saúde, o trabalho, a vida familiar e a vida social.

No ano passado, outra pesquisa, do Ministério da Saúde, apontou Salvador como a capital de maior consumo abusivo de álcool (21%). A seguir, São Paulo (12%).

A campanha que vai ao ar agora na televisão, e depois em outras mídias, é composta de três filmetes. Um adverte os adultos sobre o exemplo etílico em casa. Outro aborda a relação beber e dirigir e outro, a relação alcoolismo/violência. Nem chega a falar em depressão, hipertensão, alguns tipos de câncer, males do fígado e outros tantos.