Título: Suposto laranja de Renan é investigado por corrupção
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O País, p. 3

Tito Uchôa teria superfaturado obras, fraudado contratos e beneficiado seu irmão em Alagoas.

MACEIÓ. O ex-delegado Regional do Trabalho de Alagoas Idelfonso Antônio Tito Uchôa Lopes, o Tito Uchôa, virou réu em um processo que apura um esquema de direcionamento de licitações, fraude em contratos e superfaturamento de preços durante sua gestão na delegacia, entre 1999 e 2002. Ele é acusado de improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal alagoano, e a denúncia foi aceita ontem pela juíza da 3ª Vara Federal Cíntia Brunetta. Uchôa é citado por "Veja" como um dos "laranjas" usados pelo senador Renan Calheiros na aquisição de rádios.

Segundo o procurador da República Rodrigo Telles, autor da ação, das denúncias apuradas, há duas consideradas mais graves: o contrato de reforma do prédio da Delegacia Regional do Trabalho e a manutenção de aparelhos de ar-condicionado. Em despacho anexado à denúncia, oferecida pelo MPF, o Tribunal de Contas da União apontou o beneficiamento indireto da Construtora Uchôa, pertencente a Jubson Uchôa Lopes, irmão de Tito Uchôa, através da construtora Ativa, vencedora da licitação, cujos sócios são funcionários da construtora Uchôa. O objetivo era a reforma da delegacia regional. "O metro quadrado da reforma, pelo preço de mercado, era de R$304,59, ao passo que o preço contratado foi de R$716,43", diz o procurador, na documentação encaminhada a Justiça Federal. A construtora vencedora da licitação apresentou apólice de seguro fraudada.

Desde o estouro das denúncias contra Renan, o clã do senador vive seu inferno astral em Alagoas. O deputado federal Olavo Calheiros (PMDB) é acusado de grilagem de terras e o ex-prefeito de Murici Remi Calheiros é suspeito de falsificação de documentos. O vereador Robson Calheiros é alvo de processo desde 2004. Ele é acusado de racismo por sua colega de Parlamento Fátima Santiago (PTB).

No caso de Olavo, o juiz-corregedor do Tribunal de Justiça de Alagoas, Sóstenes Alex, decide, na semana que vem, se o deputado federal será ouvido nas investigações sobre grilagem de terras em Murici, a 47 quilômetros de Maceió. Nas investigações, Olavo é acusado de atuar em conjunto com a dona do cartório de Murici e tabeliã, Maria de Lourdes, na grilagem das terras. Há duas semanas, o cartório está sob intervenção da corregedoria. Olavo nega as acusações.

Ontem, trabalhadores sem-terra denunciaram à Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas que estão sendo ameaçados de morte, depois que desocuparam a fazenda Boa Vista, de Olavo Calheiros, há duas semanas. A Boa Vista é uma das cinco fazendas investigadas.

Na terça-feira, 7, o Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar denúncia de falsificação de documentos, que teria sido praticada pelo ex-prefeito de Murici Remi Calheiros, irmão de Renan e tio do atual prefeito, Renan Filho.