Título: Em meio ao escândalo
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O País, p. 3

Mesmo sob investigação, Renan teve concessão de rádio autorizada por comissão do Senado.

Aemissora de rádio JR Difusora Ltda - que, segundo a revista "Veja", teria como sócio oculto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - teve pelo menos três concessões aprovadas este ano pelo Senado para operar nos municípios alagoanos de Murici, Joaquim Gomes e Porto Real do Colégio. Todas aprovadas por unanimidade na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado. A última foi apreciada já depois dos escândalos que envolvem Renan e teve como relator substituto o senador tucano Flexa Ribeiro (PA), recebendo o voto favorável de pelo menos um dos relatores do processo contra Renan no Conselho de Ética, Renato Casagrande (PSB-ES). Os dois dizem que não sabiam que a rádio teria como sócio oculto Renan ou seu filho, o prefeito de Murici, Renan Calheiros Filho.

- Normalmente essas votações são feitas em bloco, e as concessões são aprovadas por unanimidade. Ontem (anteontem) mesmo aprovamos pelo menos 30. Só chancelamos processos que vêm do Ministério das Comunicações, checando se atendem às exigências legais - justificou Flexa Ribeiro.

Casagrande defendeu a investigação no Conselho:

- Temos de verificar a origem do dinheiro usado na compra dessa rádio e se Renan teve realmente alguma participação.

O corregedor Romeu Tuma (DEM-SP) vai requisitar informações ao Ministério das Comunicações. Renan, que assinou o decreto oficializando a concessão da JR Difusora, disse que não interferiu na decisão.

- Não é o Congresso que aprova as concessões, são as comissões. Eu, como presidente da Casa, apenas despacho - disse o presidente do Senado, que já teve o sigilo bancário e fiscal quebrado pelo Supremo Tribunal Federal para apurar, entre outras denúncias, a de que teria usado recursos de um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar despesas pessoais.

Renan se defende com ataques

Pela segunda vez na semana, Renan usou a tribuna. Novamente, não apresentou fatos novos em sua defesa e preferiu atacar a Editora Abril, proprietária de "Veja", que publicou, além da denúncia de que Renan seria sócio oculto de rádios em Alagoas, a reportagem que culminou no processo no Conselho de Ética contra ele.

Renan disse que enviou ofícios à Polícia Federal, ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ao Ministério das Comunicações, à Comissão de Valores Mobiliários, ao presidente Lula e ao parlamento espanhol solicitando apuração sobre a legalidade da transferência da TVA, da Abril para a Telefônica espanhola. A Anatel aprovou em 18 de julho a compra da TVA pela Telefônica. O Cade vai analisar o negócio.

Em resposta a Renan, a editora divulgou nota em que afirma "que as revelações de VEJA sobre o senador Renan Calheiros foram rigorosamente apuradas e, portanto, as confirma integralmente. As aflições e problemas do senador derivam de suas condutas. Estas foram consideradas suficientemente problemáticas pelos seus pares e pelo procurador-geral da República, que as encaminharam para investigação, de um lado, para o Conselho de Ética do Senado e, de outro, para o Supremo Tribunal Federal. É fruto do desespero do senador a acusação leviana de que ainda haja alguma coisa a verificar na transação entre a TVA e a Telefônica. A Abril reitera que a parceria em questão está rigorosamente dentro da lei".

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