Título: FAB: caixa-preta não aponta falha mecânica
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O País, p. 8

Aeronáutica confirma versão dada pela Airbus à CPI.

BRASÍLIA. A Aeronáutica afirmou ontem, pela primeira vez, que a análise da caixa-preta de dados do Airbus A-320 da TAM, que explodiu mês passado no Aeroporto de Congonhas, não revelou indícios de falha mecânica da aeronave. A informação foi dada pelo chefe da comissão que investiga o desastre, tenente-coronel da Aeronáutica Fernando Camargo, por meio da assessoria de imprensa da FAB.

O militar veio a público depois que o vice-presidente de segurança de vôo da Airbus, o francês Yannick Malinge, declarou repetidas vezes à CPI do Apagão Aéreo que as investigações afastaram a possibilidade de pane mecânica. Camargo ressalvou, no entanto, que a hipótese não está descartada e que ela poderá ser verificada em outras linhas de investigação.

- As gravações da FDR (caixa-preta de dados) não mostraram evidências de falha mecânica, mas há outras linhas de investigação onde estas evidências podem ser encontradas. Portanto, a hipótese de falha mecânica não está descartada - declarou Camargo.

Em depoimento à CPI na última terça, Camargo negou-se a dar detalhes da investigação, alegando sigilo profissional. Mas, diante das declarações de Malinge, se viu obrigado a revelar uma importante conclusão da investigação.

Airbus repassou a clientes informação da caixa-preta

Embora não tenha apresentado documentos, o representante da Airbus disse que a companhia ouviu da comissão, em reunião semana passada, que os dados da caixa-preta descartavam a hipótese de falha mecânica. Segundo Malinge, a Airbus repassou a informação a todos os seus clientes. Como fabricante da aeronave acidentada, a Airbus tem direito de ter uma vaga no grupo de investigação.

- A análise das caixas-pretas permite dizer que não houve pane. Comunicamos isso a nossos clientes com o acordo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes) - disse Malinge.

A caixa-preta de dados mostrou que, dois segundo antes de a aeronave tocar ao solo, o manete (alavanca que controla a potência do motor) direito estava em posição climb (de aceleração). Isso impediu que fossem acionados freios automáticos e, provavelmente, levou o avião a chocar-se com o prédio da TAM Express. A constatação levou a duas possibilidades: ou o piloto esqueceu de recuar os manetes para o ponto morto, ou ele o fez mas o computador de bordo não entendeu o comando. O recuo dos manetes é procedimento básico de pouso, mas o representante da Airbus deu a entender que aposta nesta hipótese.

- A experiência aeronáutica na questão da falha humana nos mostra que há situações completamente imprevisíveis - disse.