Título: Congonhas: mais reclamações depois da obra
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O País, p. 8

Controladores dizem que pilotos passaram a se queixar da pista principal após reforma que não incluiu o grooving

Maria Lima

BRASÍLIA. Os quatro controladores de vôo que trabalharam na torre de Congonhas na véspera e no dia do acidente com o Airbus A-320 da TAM - 17 de julho- traçaram ontem em depoimento na CPI do Apagão Aéreo da Câmara um quadro de problemas que expõem o acúmulo de vôos no principal aeroporto do país. Eles denunciaram que aumentou o número de reclamações de pilotos sobre as condições da pista após a reforma que não incluiu o grooving (ranhuras para aumentar a aderência). Também reclamaram da invasão das freqüências de comunicação com pilotos por rádios piratas e torres de telefonia.

Inquirido pela deputada Solange Amaral (DEM-RJ), o controlador Eduardo Dayrel, com 21 anos de trabalho no local, afirmou que às vezes o tráfego em Congonhas é tão intenso que até 15 aeronaves são colocadas em espera ao mesmo tempo circulando sobre o aeroporto. O terceiro sargento Celso Domingos Alves disse não lembrar de reclamações de pista escorregadia antes da reforma da pista principal de Congonhas.

- Congonhas opera diariamente de 600 a 650 pousos e decolagens por dia - disse Alves, que aparece nas conversas com os pilotos do avião da TAM.

"Como operador, não podia fazer nem falar nada"

Alves, que tem 22 anos de idade e dois de experiência como controlador, relatou os últimos minutos da conversa. Apesar de ter alertado o comandante Cleyber Lima sobre a pista escorregadia, disse que os controladores trabalham com base na autorização da Infraero, não tendo autonomia para brecar as operações se o órgão disser que está tudo em perfeitas condições.

- Eu vi tudo acontecer. O pouso foi aparentemente normal até o toque na pista. Depois ele manteve a velocidades até a hora do acidente. Como operador, eu não podia fazer nem falar nada. Eu esperava que ele fizesse alguma manobra para parar o avião, uma derrapagem, uma arremetida, mas ele manteve até o final, planou sobre a Washington Luís, bateu no prédio da TAM e explodiu - relatou.

A controladora Luana Moreno, 23 anos, estagiária na torre de controle de Congonhas há um ano, disse que houve aumento do tráfego aéreo nos últimos meses e que a carga de estresse é alta. Segundo ela, são constantes as invasões de freqüência dos rádios da torre:

- Temos problema todo dia. Estamos falando com uma aeronave e ouvimos música ou ligação de telefone celular a cobrar. Isso atrapalha. Ainda bem que temos freqüências alternativas.

O presidente em exercício Eduardo Cunha (PMDB-RJ) divulgou trechos do áudio da gravação dos diálogos dos pilotos com a torre. Eles perguntam aos controladores sobre as condições da pista. Primeiramente, foram informados que estava molhada e, alguns minutos depois, que estava escorregadia. O áudio dos segundos próximos à explosão não foram divulgados.