Título: Cubanos temiam por suas famílias, diz lutador
Autor: Awi, Fellipe
Fonte: O Globo, 10/08/2007, O País, p. 10

DEPORTAÇÃO POLÊMICA: "Eles (os pugilistas) falavam como se estivessem num dilema", conta Ricardo Arona

Segundo brasileiro citado por Rigondeaux, atletas contaram que suas casas poderiam ficar sem luz e suprimentos

Fellipe Awi

Lutadores brasileiros que conviveram com os cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara em Niterói, após a deserção, deram ontem nova versão para a decisão dos pugilistas de voltarem para Cuba, na semana passada. Segundo o lutador de vale-tudo Ricardo Arona, o único brasileiro citado nominalmente por Rigondeaux em sua entrevista ao jornal "Granma", os dois atletas contaram que suas famílias poderiam sofrer represálias se eles fossem para a Alemanha ou ficassem no Brasil.

- Eles disseram que estavam sendo pressionados porque o governo cubano poderia cortar a luz e os suprimentos da casa de suas famílias lá em Cuba - contou Arona.

Segundo a Polícia Federal, Rigondeaux e Lara se entregaram às autoridades brasileiras afirmando apenas que queriam voltar ao seu país. Na entrevista ao "Granma", os pugilistas contaram que voltaram porque estava arrependidos pelo ato de indisciplina e queriam estar junto à sua família e à sua pátria. Eles disseram ainda que tiveram a companhia de lutadores brasileiros, entre eles Arona.

Cubanos ficaram em Niterói antes de ir para Araruama

Integrante da equipe de vale-tudo Brazilian Top Team, Arona disse que foi apresentado aos cubanos por um amigo, ex-lutador, que pediu para não ser identificado. Rigondeaux e Lara ficaram cerca de cinco dias na casa desse amigo, em Itaipu, antes de viajarem para Araruama, onde foram encontrados pela polícia. Seu amigo teria conhecido os dois no Riocentro, local destinado às lutas de boxe do Pan-Americano, e não teria oferecido dinheiro para os cubanos ficarem aqui.

Arona disse que nem ele nem o amigo conhecem o alemão Thomas Doering nem o espanhol identificado como Alex, apontados como os aliciadores dos pugilistas e que teriam oferecido aos cubanos um contrato profissional na Alemanha.

- Depois que eles saíram de Niterói, não tive mais contato com os cubanos. Eles não gostavam de falar pelo telefone - disse.

Cubanos cogitaram abrir academia de boxe no Rio

Segundo Arona, enquanto estavam em Niterói, Lara e Rigondeaux pareciam empolgados com a idéia de morar no Brasil. Estimulados pelos lutadores de vale-tudo, eles cogitavam a possibilidade de abrir uma academia ou se associar a uma já existente.

- Seria bom para eles e para nós. Já imaginou se pudéssemos treinar com os melhores pugilistas do mundo? Eles estavam muito animados com a idéia, tanto que não entendi nada quando vi pela TV que eles estavam voltando para Cuba - contou.

O lutador afirmou que, apesar da empolgação, Lara e Rigondeaux já mostravam preocupação com a situação de suas famílias em Cuba.

- Eles falavam como se estivessem num dilema. Mostravam muito respeito pelo seu país, mas queriam conquistar o mundo - disse.