Título: `Problema no crédito não vai se alastrar¿
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 10/08/2007, Economia, p. 25

Nuno Camara, economista-sênior para América Latina do banco Dresdner Kleinwort em Nova York, está otimista. Para ele, a crise não atrapalha os planos do Brasil de receber o grau de investimento, que poderá sair até o fim do ano.

Por que o congelamento de fundos do banco BNP Paribas afetou todo o mundo?

NUNO CAMARA: Antes, os problemas com o crédito de alto risco estavam confinados nos Estados Unidos. Com o anúncio do BNP Paribas, a volatilidade, que já é a maior dos últimos quatro anos, aumentou e houve medo entre os investidores. Mas vejo essa medida como uma preocupação do banco para evitar um desequilíbrio financeiro, já que a instituição tem diferentes papéis em sua carteira. A ação dos bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa foi positiva para o mercado por trazer justamente mais liquidez em um momento de aversão a risco. Mas continuo acreditando que a crise no crédito subprime não vai se alastrar pelo resto da economia. É um só um medo.

A turbulência afasta o Brasil ainda mais do investment grade (grau de investimento), concedido pelas agências de classificação de risco?

CAMARA: Pelo contrário. O Brasil está atravessando bem toda essa bolha, que está limpando o mercado. O país está forte contra choques externos. Apesar de alguns papéis sofrerem com a falta de liquidez, devido à menor posição especulativa dos investidores, eles não estão saindo do país, já que o dólar tem-se mantido em um patamar semelhante nas últimas semanas. Com os fundamentos da economia consolidados, o investment grade pode vir até antes do previsto. Hoje, acreditamos que a melhora na nota do crédito poderá vir até o fim deste ano.

Como o país pode continuar atraindo investimento estrangeiro em meio a tantas dúvidas sobre uma eventual crise?

CAMARA: É importante que seja feito todo o dever de casa. É necessário ter um bom desempenho fiscal e avançar nas reformas. Além disso, a autonomia do Banco Central tem papel fundamental nesse processo, em intervir nos momentos certos. Por isso, o fluxo de dólares vai continuar entrando no país.

Os problemas nos Estados Unidos podem afetar o mercado imobiliário de países emergentes como o Brasil?

CAMARA: Não. O mercado imobiliário quase não existe no Brasil. Representa apenas 2% do PIB (Produto Interno Bruto). Além disso, o setor não é alavancado. Alguns países emergentes, onde o setor está com muita exposição, poderão ser afetados. (Bruno Rosa)