Título: Usineiro é 'personalidade', diz Lula
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 10/08/2007, Economia, p. 27

Na Jamaica, presidente elogia programa alcooleiro da época da ditadura.

KINGSTON (JAMAICA). Em discurso para empresários no encerramento de um seminário sobre biocombustíveis na capital jamaicana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem citar nomes, que os usineiros eram tratados no passado como "marginais". Segundo Lula, sob sua gestão, eles viraram personalidades.

Um empresário do ramo, que participou do encontro, concordou parcialmente. Segundo ele, na época de FH, não chegavam a ser tratados como marginais, mas, "com desdém".

- Os empresários que estão aqui sabem que muitas vezes foram tratados como marginais porque o governo tinha vergonha de discutir com eles. Agora, os empresários que produzem álcool no Brasil estão crescendo muito e virando personalidades internacionais.

Essa não é a primeira vez que Lula elogia os usineiros. Em Goiás, no fim de março, ele chegou a classificá-los como heróis, o que despertou críticas de sindicatos de agricultores. Muitos trabalhadores nas plantações de cana já foram flagrados em condições análogas à escravidão.

Lula elogiou o programa alcooleiro da época da ditadura.

- Na época, era um general que estava no poder, e foi extremamente acertada a decisão de se criar a política de álcool no Brasil - disse, em referência ao Proálcool e a Ernesto Geisel, então presidente.

Como vem fazendo desde o início da viagem ao México e à América Central, que começou no domingo, Lula defendeu fervorosamente os biocombustíveis e criticou os países que condenam a produção de etanol, sob a alegação de que isso provocará redução na produção de alimentos. Disse ainda que os países desenvolvidos precisam comprar etanol como forma de compensação pela poluição do planeta.

- Quem deve comprar de nós? - perguntou o presidente. - Eles (os países ricos), que são os maiores poluidores do planeta. O que estamos oferecendo ao mundo desenvolvido é a oportunidade de eles fazerem uma compensação pela poluição que jogaram na atmosfera.

Lula participou da inauguração de uma usina privada de desidratação de álcool, que teve um investimento de US$20 milhões. O Brasil enviará álcool hidratado para a Jamaica e, na fábrica, vai transformá-lo em anidro (etanol). De lá, o produto será exportado aos EUA. Toda a operação tem por fim reduzir o imposto que os brasileiros pagam para que o produto entre no mercado americano. O Caribe não paga imposto para vender álcool aos EUA.

Lula: "boa cachaça" pode superar uísque no mundo

Na inauguração da usina, que não tem capital brasileiro, Lula disse que o etanol é uma "revolução extraordinária". Intitulando-se caixeiro viajante, tentou vender outro produto brasileiro: a cachaça. - No dia em que o mundo experimentar uma boa cachaça brasileira, o uísque vai perder mercado. Lula ganhou de Robert Levy, presidente da JB Ethanol, a empresa inaugurada, uma camiseta do Corinthians. Num português canhestro, Levy, que como Lula não tem um dedo, desejou a Lula que aproveitasse a Jamaica como ele, Levy, fez quando esteve no Brasil.

(*) O repórter viajou em um avião da FAB, devido à falta de vôos comerciais regulares na região