Título: 'Não podemos mais atrasar investimentos'
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 12/08/2007, O País, p. 11

A perspectiva de crescimento econômico de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, na avaliação do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), pode representar o coroamento de um esforço que o governo Lula vem fazendo desde 2003, mas também expor a carência de investimentos em aéreas estratégicas.

O senhor acredita que o país pode ter novos apagões em outras áreas?

ALOIZIO MERCADANTE: A percepção desse risco é que nos dá oportunidade de tomarmos medidas que impeçam que esse cenário se realize. Esse é o grande desafio. A indústria brasileira cresceu nos últimos 12 meses 6,6%; a safra agrícola, 14%; a produção de automóveis, 20,3%; e de caminhões, 32%.

O que influiu mais no aumento dos acidentes nas estradas: a crise aérea ou o aumento da venda de veículos?

MERCADANTE: Primeiro, o fim de férias. O crescimento da venda de veículos e do transporte de carga é muito maior do que o aumento dos acidentes. Mas isso mostra o estrangulamento da estrutura viária. Uma cidade como São Paulo, onde entra meio milhão de automóveis novos por ano, precisa de investimento, planejamento e projetos estruturantes, especialmente de transportes de alta velocidade e ferroviários. Como é o projeto do trem Rio-São Paulo, de US$9 bilhões. Não há saída só pelo transporte rodoviário. Temos de acelerar os investimentos no transporte ferroviário e em trens de alta velocidade.

O país pode ficar no escuro de novo?

MERCADANTE: O risco sempre existe. O governo reconhece que a partir de 2011 teremos um déficit de 1.400 megawatts e projeta um risco de apagão de 5%, índice aceitável para o padrão internacional. Analistas de mercado, porém, acreditam que ele possa ser de 16%. Numa hipótese mais dramática, pode ser de 30%.

E a responsabilidade do Congresso?

MERCADANTE: O Legislativo devia estar tentando equacionar o problemas, mas não. Em vez disso, qualquer pretexto hoje é pretexto para obstrução.

A oposição anunciou a obstrução alegando que o presidente do Senado não tem condições de conduzir os trabalhos.

MERCADANTE: O país mudou de patamar, e não podemos mais atrasar investimentos. A reforma tributária devia ter absoluta prioridade. Não é se aprova ou não a CPMF. Não é séria essa discussão.