Título: Contratos desmentem versão de cubanos
Autor: Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 11/08/2007, O País, p. 14

Documentos foram assinados com os alemães após a deserção; agência ficaria com 35% do faturamento.

A versão dos pugilistas cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara de que foram embriagados e forçados a abandonar a Vila do Pan-Americano não se sustenta mais diante da comprovação de que assinaram, no fim de julho, contratos de trabalho com Rafael Vilhena, advogado da Arena Box Promotion, empresa alemã de promoção de lutas. Os contratos foram assinados pelos pugilistas no dia 26, cinco dias após a deserção. Com 17 páginas, os dois documentos têm cláusulas idênticas, rubricas em todas as folhas e, no fim, as assinaturas de Rigondeaux e Lara, além da de Vilhena, representante dos contratantes.

Segundo o advogado Rodrigo Del Barrio, contratado por Vilhena para dar assistência aos pugilistas depois que eles foram encontrados na Região dos Lagos, os contratos foram assinados no Consulado da Alemanha, no Rio. O objetivo, disse ele, foi "dar transparência e um cunho de legalidade ao negócio". O contrato, regido pelas leis alemãs, dá à Arena Box Promotion 35% dos ganhos da dupla, desde a renda das lutas até luvas e faturamento com publicidade.

- É um contrato para agenciamento. Não reza multa contratual. Os lutadores não pagariam nada. Só receberiam pelas lutas e, inclusive, já estavam sendo bancados pelo Rafael - observa Del Barrio. - O documento prova uma negociação que geraria efeitos positivos e lucrativos aos boxeadores. O contrato não mostra abuso e exploração em quaisquer atividades dos boxeadores. Além disso, revela que eles estavam muito conscientes.

Del Barrio tentou conversar com os dois pugilistas na sede da PF de Niterói, mas, segundo ele, os policiais não permitiram que falassem reservadamente:

- E ainda fui chamado de aliciador. Não tive tempo de entrar com pedido de habeas corpus. Estavam não só em liberdade vigiada como também incomunicáveis. Alguma coisa de muito importante deve ter acontecido entre Fidel e o governo brasileiro para que os dois tenham ido embora tão rapidamente.

Já o promotor Leonardo Figueiredo disse que a PF permitiu que ele conversasse reservadamente com os cubanos e oferecesse ajuda para pedir um habeas corpus. Os cubanos, porém, negaram, dizendo que queriam voltar a Cuba, segundo o promotor.

Alemão tinha credencial de imprensa do CO-Rio

O Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos (CO-Rio) admitiu ontem que o alemão Thomas Doering, que se encontrou com os cubanos após a deserção, estava credenciado como jornalista, como disseram os boxeadores em depoimento à polícia. Em nota, o CO-Rio informou que Doering representava a emissora de TV alemã ZDF.

O documento foi emitido em 12 de julho, quando Doering já estava no Brasil, após o Centro de Credenciamento receber um fax da Alemanha, em papel timbrado e assinado pelo coordenador de esportes da ZDF, K. Petrzika, solicitando credenciamento para Doering. A credencial permitia livre circulação pelas instalações esportivas e pela Zona Internacional da Vila.

Segundo o CO-Rio, Doering apresentou o passaporte e teve os antecedentes criminais checados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

COLABOROU: Luiz Ernesto Magalhães