Título: Corregedor do Senado vai convidar João Lyra para depor sobre Renan
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 13/08/2007, O País, p. 4

Conselho de Ética espera que PF entregue esta semana resultado de perícia.

BRASÍLIA. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), vai convidar hoje, segundo sua assessoria, o usineiro João Lyra para prestar esclarecimentos sobre a revelação de que teve uma sociedade secreta com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) - que negou as acusações. Além disso, o Conselho de Ética da Casa tem a expectativa de que o Instituto de Criminalística da Polícia Federal entregue até o final desta semana os resultados da perícia nos documentos apresentados pelo senador. Segundo informações que chegaram aos parlamentares, há inconsistências e falhas na documentação encaminhada.

A sociedade secreta entre Renan e Lyra teria ocorrido na compra de uma emissora de rádio e de um jornal em Alagoas, que mais tarde deu origem à JR Radiodifusão. Em entrevista à "Veja" deste final de semana, o empresário alagoano disse que Renan não quis aparecer e que pediu que o negócio fosse colocado em nome de laranjas.

Os documentos que estão nas mãos da Polícia Federal referem-se às denúncias de que Renan teve despesas pagas por um funcionário da empreiteira Mendes Júnior. Segundo os senadores, entre as falhas na documentação, está o fato de não haver similaridade direta entre os pagamentos da pensão dada à jornalista Mônica Velloso pelo presidente do Senado - com quem tem uma filha - e as saídas desse dinheiro de suas contas bancárias.

A perícia deveria ser concluída nesta terça-feira. Mas, os peritos solicitaram novos documentos, o que vai atrasar a conclusão do trabalho. Daí a expectativa de que o relatório final só seja conhecido pelos parlamentares no final desta semana.

Por meio de sua assessoria, Tuma informou esperar que Lyra aceite comparecer no Senado o mais breve possível, se possível ainda esta semana, para confirmar ou não as declarações sobre Renan, hoje seu adversário político. Para a oposição, a situação política de Renan se complicou depois das declarações de Lyra.

Lyra estaria disposto a comparecer ao Senado

Pessoas próximas a João Lyra estão seguras de que não há nada contra o empresário alagoano em relação à sociedade secreta dele com Renan e ao uso de laranjas. Essas fontes disseram que Lyra jamais ocultou seu nome à frente das empresas e asseguraram que ele tem lastro patrimonial de sobra para a compra das empresas de comunicação. Lyra tem R$250 milhões de Imposto de Renda declarados, disseram.

Lyra está disposto a comparecer ao Senado, segundo interlocutores, mas quer evitar troca de acusações com Renan para não reforçar os argumentos do adversário de que se trata apenas de uma briga regional.

- Renan vai querer usar uma cortina de fumaça, puxar a briga para Alagoas e tirar o foco do Senado - disse uma fonte próxima a João Lyra.

Até mesmo o senador Renato Casagrande (PSB-ES), que é relator da primeira denúncia contra Renan, acha que o comparecimento de Lyra é inevitável:

- Acredito que João Lyra será convocado de qualquer maneira e isso complica a situação de Renan Calheiros, mesmo levando em conta que há interesses locais, do estado.

Casagrande lembrou que o Conselho de Ética sequer recebeu oficialmente a nova representação contra Renan, que trata dessa questão das emissoras de rádio e o do uso de laranjas. Há ainda a representação sobre a origem do pagamento da pensão e a que trata de empresa da família vendida à Schinchariol.

Integrante do Conselho de Ética, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defende o convite a João Lyra e quer pressa da Polícia Federal na entrega da perícia. Ele disse que vai cobrar amanhã dos relatores do caso - Renato Casagrande, Marisa Serrano (PSDB-MS) e Almeida Lima (PMDB-SE) - informações sobre o trabalho dos peritos.

- João Lyra tem que ser chamado. No caso da perícia, vou querer saber exatamente o que está acontecendo. É preciso que se defina se Renan quebrou ou não o decoro - disse Demóstenes, cuja posição é apoiada pelo líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

"Não dá para exportar briga local para cenário nacional"

Aliado de Renan, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), minimizou as declarações de Lyra, lembrando que ele é inimigo político de Renan:

- Não dá para exportar uma briga local para o cenário nacional. O Conselho de Ética precisa é cobrar da PF a questão da perícia e, a partir daí, fazer o relatório e pronto.

Já o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), desconversou sobre as denúncias de Lyra.

- Essa representação (sobre as emissoras de rádio) ainda nem chegou ao Conselho.