Título: 'Os emergentes são parte da solução da crise'
Autor: Rosa, Bruno e Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 14/08/2007, Economia, p. 19

Para o economista Paulo Leme, diretor para mercados emergentes do Goldman Sachs, banco americano de investimentos, os países emergentes são parte da solução da crise do crédito. E avisa: não haverá redução de juros nos EUA.

Bruno Rosa

Como o senhor vê a atual crise no mercado de crédito?

PAULO LEME: Não é apenas um problema com subprime. Primeiro, houve a criação de produtos de propriedades desconhecidas (a concessão de créditos de maior risco). Segundo, o Federal Reserve e o Banco Central Europeu iniciaram um movimento de restrição de crédito, elevando juros. Isso gerou maior risco. Em um ambiente normal de pressão e de temperatura, tudo dá certo. Mas, quando a observação estatística sai do padrão, há um nervosismo. Por isso, houve um problema de liquidez. Apesar de estarmos em um terreno frágil, a atuação dos bancos centrais é positiva.

A economia mundial vai continuar crescendo?

LEME: Tudo que está acontecendo é um cenário construtivo. É preciso analisar as ferramentas criadas e mensurar as perdas. Estamos mantendo nossa previsão de crescimento global de 5% este ano. Mesmo com menor crescimento dos Estados Unidos devido à crise no mercado imobiliário, a alta será amparada pelos emergentes, a Ásia, em especial.

Por que os emergentes não vão registrar perdas?

LEME: A volatilidade vai continuar, e os preços dos ativos serão corrigidos. Eu sou um veterano de várias crises desde os anos 80. Hoje, a diferença é que os emergentes são parte da solução da crise no crédito. Como o Brasil tem déficit em conta corrente, os índices têm tido bom comportamento. Mas, claro, isso não quer dizer que o país seja imune à crise.

Se a crise no subprime se alastrar pela economia, como o Brasil poderia ser afetado?

LEME: Se os Estados Unidos crescerem menos, países como a China não terão para quem exportar. Assim, não consumirão commodities do Brasil, afetando os preços e reduzindo o crescimento brasileiro. Mas não acreditamos nesse cenário. O Brasil deve crescer 4,6% este ano e 4,8% em 2008.

O Federal Reserve pode reduzir os juros básicos, atualmente em 5,25% ao ano?

LEME: Não. Os sinais são claros. A demanda por liquidez foi atendida com o aumento da oferta de dinheiro. É uma ação temporária, já que a quantidade injetada pelos bancos centrais está sendo reduzida aos poucos. Eles estão intervindo no mercado de forma pontual justamente para não mexer na taxa de juros. Mas, claro, se a incerteza aumentar a ponto de começar a afetar o crescimento mundial, os bancos centrais terão de rever isso. Esse, no entanto, não é o cenário central hoje.